Capítulo 4
POV de Cedar
Quando saí do meu quarto, pronta para ir à cozinha e começar a fazer o almoço, parei no meio do caminho. Um aroma irresistível de comida caseira se espalhava pelo ar, e sobre a mesa havia uma seleção de pratos dispostos com um cuidado quase artístico — ainda soltando vapor, como se tivessem acabado de sair da cozinha. Ao lado da mesa estava Oliver, seus olhos brilhando de empolgação.
Olhei para ele, incrédula. "Oliver... você fez tudo isso?"
Ele acenou com a cabeça, animado, balançando nas pontas dos pés. "Na verdade, eu encomendei. Você vive na correria e merece comer bem para recarregar as baterias!"
Aproximei-me lentamente. "Você sabe como pedir comida?"
"Usei meu smartwatch para falar com um restaurantezinho aqui perto," explicou ele, num tom cuidadoso, mas decidido. "Pedimos de lá muitas vezes, e o dono conhece minha família. Pedi para colocar na nossa conta por enquanto—ele e meu pai são bons amigos!"
Curiosa, peguei meu garfo e dei a primeira mordida. Minhas sobrancelhas se ergueram de surpresa. "Isso é... incrível. Tem gosto de comida de restaurante cinco estrelas."
"É... o chef costumava trabalhar em um restaurante famoso." Oliver sorriu com orgulho, suas bochechas corando.
Estudei a comida com crescente suspeita. Mas o rosto expectante de Oliver me fez engolir minhas perguntas junto com outra mordida das impossivelmente cremosas batatas.
Oliver subiu na cadeira, balançando as pernas felizmente. "Você gostou, mamãe?"
Lá estava, de novo, aquela palavra — "mamãe". Ela acendia algo no meu peito, um calor doce que se espalhava de dentro para fora. Eu deveria tê-lo corrigido, mas não consegui me forçar a chateá-lo naquele momento.
"Claro. Obrigada, Oliver."
Depois do almoço, passamos a tarde no pequeno pátio atrás do meu prédio. Oliver criou um jogo cheio de regras malucas sobre não pisar nas rachaduras, com giros e pulos que me arrancaram gargalhadas como eu não dava há anos. Sua energia inesgotável e imaginação eram contagiosas, transformando um espaço de concreto simples em um playground mágico.
À noite, estávamos ambos exaustos da melhor maneira possível. Enquanto eu o colocava na cama, sua pequena mão segurou a minha.
"Melhor dia de todos. Amo você, mamãe," ele sussurrou, seus olhos já se fechando.
Aquela noite, fiquei acordada pensando sobre essa criança estranha e maravilhosa que apareceu na minha porta, e a conexão inexplicável que sentia por ele.
Na manhã seguinte, passou num turbilhão de promessas e instruções enquanto eu me preparava para o trabalho. Depois de trabalhar remotamente ontem, eu precisava ir ao escritório hoje.
"Lembre-se, não abra a porta para ninguém," lembrei Oliver, colocando um sanduíche na geladeira. "Vou tentar voltar cedo."
"Eu sei, mamãe," ele disse com uma paciência surpreendente. "Vou ser super bonzinho."
Aquele sorriso confiante conseguiu, ao mesmo tempo, me acalmar e me deixar com o coração apertado enquanto eu fechava a porta a contragosto.
Acabei de me acomodar na minha mesa, minha mente ainda em Oliver sozinho no meu apartamento, quando o interfone tocou. A voz de Selena veio, afiada e impaciente.
"A mamãe quer você na sala de conferências. Agora." Seu tom fez meu estômago apertar.
Quando entrei na sala de conferências, Selena já estava encostada no batente da porta, sua expressão presunçosa. Atrás dela, Elara estava sentada na cabeceira da mesa de conferências, sua postura rígida e pouco acolhedora.
"Você sabe o que fez?" Elara me olhou fixamente. "Acabei de receber a notícia do Wilson Group. Eles estão encerrando as discussões sobre nossa potencial colaboração."
O ar na sala parecia rarefeito. O contrato com a Wilson valeria 8 milhões de dólares—nossa maior oportunidade deste ano.
"O que aconteceu?" perguntei, embora já soubesse.
A risada de Selena cortou o ar como vidro estilhaçado. "Como se você não soubesse. Brad Wilson ligou pessoalmente para cancelar."
"Ele fez exigências inadequadas durante nossa reunião," eu disse, minha voz mais firme do que eu sentia. "Ele sugeriu que o contrato dependia de um jantar privado com ele."
O suspiro de Elara carregava décadas de decepção praticada. "Cedar, há maneiras de lidar com essas situações sem queimar pontes. A indústria de design exige... flexibilidade."
"Não vou usar 'esse tipo' de flexibilidade para ganhar contratos."
"Não se faça de tão justa," Selena retrucou, seus olhos azuis brilhando com o desprezo familiar. "Esse contrato valia oito milhões de dólares! Todo mundo sabe que Brad está de olho em você."
"Então todos deveriam saber que não estou interessado," respondi, encontrando seu olhar sem vacilar.
Elara tamborilou os dedos na mesa. "Talvez você tenha esquecido quem te deu o cargo de Gerente do Departamento de Design." A lembrança não dita pairava no ar—eu devia tudo a eles. Minha educação, minha carreira, minha própria identidade como Cedar Wright.
Eu podia sentir Selena sorrindo. Ela vinha levando crédito pelos meus designs desde a faculdade, sempre que Jonathan e Elara permitiam. No mês passado, minha reforma do átrio da Mansão Lakeside apareceu na Architectural Digest—sob o nome de Selena. Quando reclamei, Elara apenas me dispensou com um gesto. "Empresas familiares exigem sacrifícios, Cedar. Selena é uma Wright de sangue."
"Chega disso. Há algo mais importante esta noite," Elara continuou, interrompendo meus pensamentos. "A exposição anual de design de interiores da Associação de Design de Chicago no Drake Hotel. Todos nós vamos."
Senti meu coração despencar. Essas exposições não passavam de grandes encenações de networking, mascaradas de encontros da indústria — o tipo de evento social forçado que eu sempre detestei. Além disso, eu tinha prometido a Oliver que voltaria cedo.
"Não posso," eu disse. "Tenho... compromissos."
"Isso não é um pedido, Cedar." A voz de Elara endureceu. "Executivos do Sterling Group estarão presentes. Seus conceitos de design podem ser nosso ingresso para aquele navio."
Sterling Group?! Eu nunca tinha trabalhado diretamente com eles, mas todos no mundo do design em Chicago conheciam a empresa poderosa. Seu estilo modernista elegante havia transformado skylines por toda a América.
Talvez a caça por um alvo ainda maior, como o Sterling Group, explicasse a calma quase arrogante de Elara e Selena, mesmo depois de eu ter arruinado um projeto de peso.
"Vou precisar dos seus esboços da Coleção Canopy prontos para exibir," Elara acrescentou, levantando-se para sinalizar o fim da reunião.
Quando saíram, eu fiquei imóvel, sentindo o peso familiar da obrigação pressionando.
Depois do trabalho, passei na minha boutique favorita para encontrar rapidamente um vestido adequado, depois fui para o local.
O salão de baile do hotel brilhava sob a presença da elite do design de Chicago naquela noite. Lustres de cristal lançavam luz sobre pedestais de exibição onde designs inovadores aguardavam reconhecimento da indústria.
Do outro lado do salão, Elara se movia pela multidão com graça ensaiada, Selena ao seu lado. Elas paravam em cada grupo influente, a mão de Elara possessivamente no ombro de Selena enquanto apresentava sua filha a potenciais clientes e parceiros. Eu permanecia invisível, como de costume.
"Senhoras e senhores," a voz do mestre de cerimônias cortou o murmúrio da conversa, "por favor, deem as boas-vindas ao nosso convidado especial desta noite—o Sr. Ridley Sterling, CEO do Sterling Design Group."
A sala ficou em silêncio, todos os olhos se voltaram para a entrada. Minha respiração parou quando o vi pela primeira vez.
Ridley Sterling estava na porta, sua presença comandando o espaço sem esforço. Alto e imponente em um terno sob medida, suas feições eram marcantes. Ao seu lado estava um menino de cerca de seis anos, vestido em uma versão em miniatura do traje formal do pai, sua expressão igualmente séria.
"Sr. Sterling tem um filho! Quem é a esposa dele?" uma mulher murmurou atrás de sua taça de champanhe.
"Você não viu as notícias? Bem, não posso culpá-la—ele esteve fora do radar. Acabou de voltar de chefiar a divisão europeia," outra respondeu com um olhar conhecedor. "A esposa dele morreu ao dar à luz. Este é seu herdeiro, Aiden Sterling. E ele não planejava se casar novamente."
Algo puxou meu coração ao ouvir a conversa delas. Havia algo de comovente nisso — um homem que permanecia fiel a um amor que o tempo não conseguiu apagar.
"Ele é tão encantador!" Selena sussurrou animadamente para Elara nas proximidades, sem notar minha presença. "O solteiro mais cobiçado de Chicago—eu vou me casar com ele."
Revirei os olhos com a ilusão dela. Sério? Ela não ouviu uma palavra do que acabaram de dizer sobre ele nunca se casar novamente?
Enquanto a multidão envolvia Ridley, o garotinho se aproximou de uma exibição de escultura moderna. Eu o observei estudar uma peça de metal retorcido com o olhar crítico de alguém três vezes sua idade.
Aquele pequeno adulto, impecável no traje formal em miniatura, me passava uma impressão totalmente oposta à do brincalhão Oliver, que me esperava no apartamento — embora tivessem quase a mesma idade e os mesmos olhos azuis.
"Cedar," a voz afiada de Elara interrompeu meus pensamentos. "Venha. Vamos nos apresentar ao Sr. Sterling."
