CAPÍTULO 3
WILLOW
Fazer as malas nunca foi meu forte. Eu odiava. A quantidade de cadernos de desenho e coisas aleatórias que eu tinha parecia uma tarefa impossível de encaixotar. Com uma última faixa de fita adesiva nas abas, peguei um marcador e rabisquei "Cadernos de Desenho da Willow #4" na lateral. Empurrei a caixa para o lado com um suspiro pesado, limpando o suor da testa.
Já fazia duas semanas desde a traição do Leo.
Eu estava indo embora. E queria já estar longe, deixar Leo e sua traição para trás. Só de pensar nele, meu peito apertava, e a vontade de sair dessa cidade me atingia com uma intensidade renovada.
Quando meu pai chegou em casa uma tarde e anunciou que estávamos nos mudando da Califórnia para uma pequena e fria cidade perto de Seattle chamada Castle Creek, fiquei empolgada.
A chance de escapar parecia perfeita.
Isso até eu perceber que teria que começar o último ano do ensino médio de novo, deixar minha melhor amiga Casey para trás e tentar sobreviver em uma nova escola no meio do ano. Era meu último ano, com baile de formatura e graduação a poucos meses de distância, e agora eu teria que enfrentar tudo sozinha. Se eu tivesse ficado na River High, Casey estaria lá para me ajudar. A ideia de passar a noite do baile em casa sozinha só me fazia arrumar as malas mais rápido.
Sempre fomos só nós três - eu, meu pai, William Anderson, professor de História e Literatura; minha mãe, Mia Anderson, designer, e eu, Willow Anderson.
Soltei um suspiro silencioso, me levantando do chão e caminhando em direção ao banheiro.
Faltavam apenas duas horas antes de carregarmos tudo e partirmos, e com esse calor, cada minuto contava. Logo, eu estava debaixo do jato frio do chuveiro, deixando a água lavar o resto do cansaço e a leve dor no peito.
Algumas lágrimas soltas escorreram, misturando-se ao fluxo enquanto eu observava os detalhes familiares do banheiro pela última vez.
Mesmo depois da traição de Leo, aqueles sonhos enlouquecedores não paravam. Pareciam tão reais, como se o estranho sem rosto de alguma forma soubesse que eu estava sofrendo. Ele me abraçava, beijava minha testa suavemente... mas todas as manhãs, eu acordava e percebia que era apenas um sonho.
Eu me esfreguei e me sequei, e voltei para o meu quarto enrolada na toalha, sentindo-me estranhamente revigorada.
Mal dei dois passos antes de ser derrubada no chão por um peso repentino.
"Não vá!" Casey chorou, agarrando-se a mim, sua voz quebrando de emoção. Eu teria chorado também se não estivesse espremida no chão, presa pela minha melhor amiga, que pesava quase o mesmo que eu - e eu mal tinha um metro e meio de altura, afinal.
"Não... consigo... respirar, Casey!" eu ofeguei, me contorcendo sob seu aperto.
Ela congelou, o rosto corando de vergonha.
"Ah! Desculpa!" ela gaguejou, me soltando rapidamente e se levantando de um pulo. Ela estendeu a mão para me ajudar a levantar, suas bochechas ainda tingidas de vermelho enquanto me dava um sorriso apologético.
Uma vez de pé, puxei Casey para um abraço apertado. "Vamos conversar todas as noites no Skype ou FaceTime," prometi suavemente.
"E tem o Messenger! Sempre estaremos em contato. Vai ser como se eu nem tivesse ido embora."
Eu me afastei, dando-lhe um sorriso tranquilizador enquanto vestia minhas roupas. Casey soltou um suspiro pesado, sua expressão incerta. "Mas... e se não conseguirmos?" Suas palavras mal eram um sussurro, seus olhos cheios de preocupação.
Apertei suavemente a mão dela, oferecendo um pequeno sorriso, meio doce, meio amargo.
"Mesmo que a gente não se fale todos os dias, ou que passem meses sem nos ouvirmos, isso não vai mudar nada. Quando conversarmos ou finalmente nos encontrarmos, vamos continuar de onde paramos. Melhores amigas não mudam."
Uma lágrima escorreu pela bochecha dela, e ela riu, enxugando-a com um leve fungado.
"Você tem que me contar tudo quando chegar lá!" ela disse, forçando um sorriso enquanto dobrava minha toalha e a colocava cuidadosamente em uma das minhas malas.
Olhei ao redor do quarto, agora reduzido às suas paredes nuas e prateleiras vazias, o chão espalhado com caixas e malas esperando para serem carregadas. Casey e eu trocamos um último sorriso silencioso, e eu a envolvi em um abraço apertado pela última vez.
"Vou te visitar nas férias. E vou sentir sua falta, sabia?"
Casey me abraçou de volta com força, sua voz suave.
"Também vou sentir sua falta, Willow."
O som pesado de passos na escada nos tirou dos nossos pensamentos, seguido por uma leve batida na porta.
"Willow, você está pronta?" meu pai chamou.
"Sim, pode entrar!" respondi, pegando minha jaqueta - só por precaução, caso o tempo mudasse - e calçando meus chinelos. Não era a escolha mais lógica, combinar uma jaqueta com chinelos, mas imaginei que me encolheria no carro e os colocaria debaixo das pernas de qualquer maneira.
A porta se abriu, e meu pai entrou, seguido por dois carregadores, que foram direto para as últimas caixas. Ele me deu um pequeno sorriso tranquilizador enquanto os homens começavam a levantar as caixas, uma por uma, carregando pedaços da minha vida para fora da porta.
Casey e eu ficamos paradas, em silêncio, no meu quarto vazio. Passamos tantas noites aqui, rindo de paixonites, fazendo planos, mergulhando em intermináveis festas do pijama e compartilhando segredos. Era um quarto que guardava memórias de todas as idades, todas as fases. Eu quase podia ouvir o eco das nossas risadas ainda pairando no ar. Meu peito apertou enquanto absorvia tudo, minha voz mal era um sussurro.
"Acho que... é isso."
Casey assentiu, apertando minha mão.
"É. É isso." Ela olhou ao redor, seus olhos demorando em cada canto vazio como se pudesse segurar as memórias um pouco mais.
De mãos dadas, descemos as escadas, cada passo um lembrete de todas as vezes que corri para cima e para baixo com Casey, cheia de energia e planos para a próxima grande aventura. No final, parei por um momento na sala de estar, olhando ao redor. Este era o cômodo onde construí fortes, brinquei de esconde-esconde, celebrei aniversários e simplesmente cresci. Agora, todos esses momentos pareciam embalados, deixados para trás.
Fechei os olhos e respirei fundo, deixando as memórias se assentarem.
"Adeus, lar. Vou sentir sua falta."
A voz da minha mãe cortou meus pensamentos como um alarme.
"Willow, querida, vamos!"
Pisquei, voltando ao presente, e saí, sentindo a finalidade do momento me atingir. Meu pai já estava trancando a casa, e com um clique suave, ele entregou as chaves ao corretor de imóveis que nos ajudou a vender o lugar. Senti o peso da porta se fechando atrás de mim, e com um último olhar, segui minha família até o carro, pronta para recomeçar.




























































































































































































