


Capítulo 10
Eu sei que não sou feia. Posso ser virgem, mas sei algumas coisas. Assim que todo mundo se instalar nos dormitórios ou apartamentos ou seja lá onde for, vão querer começar a dar festas. Vai ser como atirar em peixes num barril – acho que é assim que se diz. Eu poderia entrar em qualquer festa e entregar meu cartão de virgem até o fim da noite. Sem problema.
Caio na cama com um baque quando a realidade finalmente me atinge. Nunca vou poder ir a uma festa, não sem o Zeke. E não estou disposta a andar por aí com ele praticamente colado nas minhas costas o tempo todo, respirando no meu pescoço. Como se algum cara fosse querer chegar perto com ele me vigiando.
Não vai ter encontrar um namorado ou mesmo sair casualmente. Droga, não vou nem poder fazer um boquete em um cara enquanto estamos nos pegando em um canto escuro.
Tem que haver uma saída para isso. De alguma forma, tenho que fazer o Zeke ver que ele não precisa seguir as regras do papai agora que estamos a quilômetros de distância. E se ele conhecer alguém de quem goste e quiser um tempo a sós com ela?
Odeio a dor no meu peito quando essa ideia me atinge. Zeke com alguma vadia qualquer. Beijando e tocando ela. Fazendo todas as coisas que imaginei ele fazendo comigo. Deixando ela fazer todas as coisas que eu quero fazer com ele.
Não. Queria. Passado. Agarro a colcha da cama com os dois punhos, apertando os olhos o mais forte possível. Preciso parar de pensar nele desse jeito. Fui estúpida e tive uma queda, e é isso. Uma dessas coisas idiotas.
Nada nunca ia acontecer entre nós. Todos os olhares que pensei que ele me dava estavam na minha cabeça. Ele nunca esteve interessado, nunca me viu como nada além de uma mimada. Uma princesa.
E agora, depois daquela noite horrível, ele mal me toca. A dor surda no meu braço me lembra do toque dele. Estou surpresa que ele não lavou as mãos logo depois, como se eu fosse suja.
Ele estava ocupado demais destruindo o celular que comprei, o idiota. Dinheiro jogado fora. Queria matá-lo ali mesmo no estacionamento, na frente de qualquer um que passasse. Atropelá-lo com o carro, esmagá-lo do jeito que ele está me esmagando, mesmo que ele não saiba disso.
"Tá com fome, princesa?" A voz dele chega do outro lado da porta fechada.
Cerrei os dentes em vez de mandar ele se ferrar por me chamar assim. Ele sabe que isso me irrita, e é a única razão pela qual continua usando essa palavra. Se eu mostrar o quanto odeio, ele só vai fazer mais. "Sim, estou pensando em preparar algo daqui a pouco," respondo o mais calmamente possível.
Ele dá uma risada. "Certo. Como se a princesa fosse cozinhar a própria comida."
Eu não deveria fazer isso, mas não consigo me controlar. Esse filho da mãe sarcástico. Marcho até a porta e a escancaro. Ele está lá, com as mãos nos bolsos, sorrindo como se essa fosse exatamente a reação que ele esperava. Eu o odeio pra caramba.
"Vai se ferrar, sabia?"
"Ui, que linguagem."
"O quê? Vai contar pro seu chefe sobre mim? Porque é isso que você faz, não é? Corre de volta pra ele como o cachorrinho de colo que você é e relata cada maldita coisa que eu faço. Algumas pessoas chamam isso de trabalho hoje em dia."
Isso foi o suficiente. Os olhos dele não estão mais brilhando. "Cuidado, garota."
"Não, você que se cuide. Pra começar, você não é muito mais velho que eu, então corta essa merda, tá?" Quando tudo o que ele faz é sorrir, tenho que cravar as unhas nas palmas das mãos para me manter centrada. Caso contrário, posso usar essas unhas para arrancar os olhos dele. "Outra coisa, eu sei cozinhar pra mim mesma. Sei fazer um monte de coisas, e quer saber por quê? Porque até meu pai me encontrar, era só minha mãe e eu, e eu ficava sozinha em casa a maior parte do tempo. Se eu estava com fome, tinha que cozinhar pra mim. Se havia uma bagunça, eu tinha que limpar. Eu fazia a maioria das tarefas da casa porque minha mãe estava tão cansada de trabalhar em dois empregos que nunca tinha energia. Eu lavava a roupa, lavava a louça e esfregava o banheiro. Eu me certificava de que algo estivesse esperando por ela para comer quando ela chegasse de um turno." Tenho que parar. Vou gritar ou chorar se não parar. Como ele ousa? Ele não sabe nada sobre como era minha vida antes.
A mandíbula dele se contrai. "Quer um prêmio?"
Tenho certeza de que estou machucando a pele das minhas palmas. A dor ardente é quase bem-vinda. "Não, idiota. Não quero um prêmio. Quero um pouco de respeito. Eu não fui criada com dinheiro. Houve anos em que minhas roupas para a escola vinham todas do brechó, e mesmo assim, minha mãe tinha que economizar enquanto ia trabalhar com sapatos furados. Então você pode se ferrar com essa merda de princesa."
Nem acredito que ele precisa pensar sobre isso. Se eu fosse ele, estaria pedindo desculpas agora. Talvez até de joelhos. Mas não, ele vai ficar aí, me olhando de cima a baixo, com os lábios apertados como se estivesse pensando no assunto. Como se isso fosse algo a ser debatido.
"Tá bom. Nada mais de merda de princesa."
Uau. Estou quase surpresa demais para falar. "Mas o jeito que você fala comigo ainda faz parecer que sou uma grande piada pra você. Acha que isso pode mudar também?"
Eu deveria saber melhor. "Não force a sorte, garota."
"Você e meu pai podem ir pro inferno."
De repente, ele está a uns cinco centímetros de mim, abaixando a cabeça até seu rosto quase tocar o meu. "Mia," ele sussurra, o calor da respiração dele roçando meu rosto, fazendo um rubor se espalhar pelas minhas bochechas.