Casamento
POV da Aria
Diziam que noivas ficavam nervosas antes do casamento. Que suas mentes se enchiam de pensamentos sobre a nova vida. Que talvez, só talvez, sentissem uma pontada de dúvida.
Chamavam isso de pés frios.
Mas isso não era pés frios.
Eu estava em frente ao espelho, entorpecida. Vestida de branco, rosto impecável sob camadas de maquiagem cara, cabelo arrumado como se eu estivesse prestes a desfilar no tapete vermelho; não entrar numa armadilha.
"Ainda não acredito que estou prestes a caminhar até o altar," murmurei pela quinta vez, minha voz soando oca até para meus próprios ouvidos.
Enquanto eu olhava para o espelho, não reconhecia a garota que me encarava de volta. Tudo nela era impecável. Brincos delicados pendiam perto dos cachos esculpidos, e o vestido, fluido, ajustado, perfeito demais... agarrava-se a alguém que eu não conhecia.
Eu parecia uma maldita flor de lótus branca! Eu estava até vestida com um vestido branco!
"É melhor acreditar, querida. Minha boneca vai se casar!" A voz de Paloma soou pelo telefone.
Eu franzi a testa. "Não me chame assim." Normalmente eu odiava esse apelido, mas hoje... Agora, eu odiava ainda mais porque eu realmente parecia uma boneca.
Uma maldita boneca Barbie!
"Relaxa," ela riu, provocando como se isso não estivesse acontecendo. "Você está radiante. Você está absolutamente deslumbrante."
Eu belisquei a ponte do nariz. "Quantas vezes eu tenho que me sacrificar por ele, hein? Quantas vezes eu tenho que ser o peão só porque ele é meu pai?"
A risada de Paloma desapareceu, sua voz ficando séria. "Você faz essa mesma pergunta toda vez que ele te envolve em alguma coisa. E você sempre diz sim. Você o ama, Aria. É por isso."
Sim... Eu o amava.
Ele era meu pai, claro que eu o amava.
Olhei para o meu vestido, o bordado brilhando mesmo neste quarto escuro. Deveria ser lindo. Era lindo... Só que para esta ocasião, não tinha significado.
"Ele disse que será só por algumas semanas," sussurrei. "Apenas o tempo suficiente para conseguir o que quer dos Jacksons."
Paloma ficou em silêncio. Eu também não falei.
Sempre que eu falava sobre os negócios do meu pai, Paloma se recusava a comentar.
Ela não concordava, nem discordava.
Então, Paloma suspirou. "Bom, por enquanto, tente não parecer que está indo para o seu próprio funeral. É o dia do seu casamento." Ela disse mudando de assunto.
Eu resmunguei. "Estou feliz que você não está aqui, isso torna tudo ainda menos real."
Paloma fingiu uma expressão ofendida, soltando um suspiro exagerado. "Como ousa..."
Uma batida na porta chamou minha atenção. Ela se abriu com um rangido e uma jovem espiou, sua voz baixa. "Senhorita, está na hora."
Assenti com a cabeça. Apertei o telefone com mais força. “É hora do show,” murmurei.
“Te ligo depois,” disse Paloma.
Encerrei a chamada sem dizer mais nada e voltei a olhar para o espelho.
Essa era a pessoa que eu precisava ser hoje.
A viagem de carro até o local foi curta... felizmente. Minhas mãos estavam suadas, e eu tentava não pensar demais. Pelo menos não era uma igreja. Meu pai sabia que mentir na frente de Deus não era uma boa ideia.
Nah...
Ele não sabia.
Meu pai não temia ninguém.
Provavelmente achou esse local mais conveniente.
A porta do carro se abriu, e antes que eu pudesse sair, um homem se aproximou. Ele segurava um tablet, tocando a tela algumas vezes antes de virá-la para mim.
Hesitei, franzindo a testa para a tela, até que o rosto do meu pai apareceu.
“Querida,” ele disse com um sorriso, como se fosse apenas mais uma ligação de negócios. "Como estão as coisas?"
Não sei por que, mas me senti desapontada.
Lá no fundo, eu sabia que ele não viria.
Mas era um casamento, meu casamento.
Achei que ele tentaria.
Mas não tentou.
“Você me fez fazer isso,” disse baixinho, “e nem sequer apareceu?”
O sorriso dele vacilou. “Querida, eu tinha trabalho. Não tinha como...”
“Claro,” interrompi, com a voz fria. “Ocupado demais para ir ao casamento da sua filha.”
“Não é seu casamento de verdade,” ele retrucou, os olhos desviando para alguém fora da tela. “Além disso, há muitos inimigos naquela sala. Não pude correr o risco.”
Fitei-o por um momento, então apertei o botão vermelho, encerrando a chamada.
O segurança que segurava o tablet piscou, claramente não esperando isso.
“O quê?” retruquei. “Quer ligar de volta e dizer que eu chorei?”
Ele fechou a boca imediatamente.
Dei um passo à frente, meus saltos esmagando o cascalho. O local não estava lotado. Apenas a família do noivo e alguns associados de negócios poderosos ocupavam os assentos. Meu pai nem se deu ao trabalho de arranjar alguém para me levar até o altar.
Era de se esperar.
Isso tornava o casamento ainda menos real.
Olhei para o altar, e lá estava ele... meu futuro marido, alto, ombros largos. Ele estava perfeitamente imóvel, como uma estátua em um terno sob medida. Seu rosto estava longe demais para distinguir claramente, mas daqui, ele parecia... decente. Bonito, até.
Tanto faz.
Abaixe o véu, exalando lentamente.
“Eu consigo fazer isso,” sussurrei.
Enquanto avançava, tentei sentir algo... qualquer coisa. Dizem que essa caminhada até o altar é mágica. Que o tempo desacelera, e no momento em que seus olhos encontram os do noivo, tudo se encaixa.
Mas tudo o que senti foi o peso dos meus passos e o silêncio gritando na minha cabeça.
Nada de mágico nisso.
