Abandono

POV de Aria

Deslizando pelo corredor, mantive-me abaixada e em silêncio. Meus pés descalços não faziam barulho no chão frio. O corredor se estendia em duas direções; uma levava para a escuridão, a outra para uma luz amarela fraca.

Segui a luz.

Cada porta que passei estava fechada. Algumas pareciam mais antigas que outras... tinta descascada, dobradiças enferrujadas. Onde quer que eu estivesse, não era uma fortaleza de alta tecnologia. Esse lugar parecia... abandonado. Como um velho armazém convertido em algo mais sombrio.

Cheguei a um canto e parei.

Vozes.

Pressionei-me contra a parede, mal respirando.

"...o chefe disse que ela fica naquele quarto. Você não a desamarrou cedo demais, desamarrou?"

Aquela voz; eu a reconheci. O cara com os olhos cansados... O outro que veio com Luca.

"Ela estava lutando," outra voz respondeu. Esse era o homem que me desamarrou. "Achei que ela se cansaria mais rápido se não estivesse amarrada como um cachorro."

"Bem, esperemos que isso não volte para nos morder."

"Não, o chefe pediu para desamarrá-la. Ela é louca, mas duvido que seja louca o suficiente para querer escapar."

Arqueei uma sobrancelha.

Agora, por que diabos eu seria louca o suficiente para ficar aqui?

Me agachei na porta mais próxima. Ela se abriu com um rangido suave. Fiz uma careta. Estava escuro lá dentro, mas entrei e me escondi nas sombras.

Quase lá...

Dois homens passaram segundos depois. Eu podia distinguir apenas suas silhuetas; um mais alto, ombros largos, caminhando com propósito. O outro vinha um pouco atrás, esfregando a nuca.

Eles não me viram... espero.

Soltei um suspiro lento.

Eu estava em algo que parecia um depósito; caixotes, lonas, móveis quebrados. Examinei o espaço rapidamente...não havia janelas, e apenas uma porta.

Me movi devagar até que minha perna esbarrou em uma mesa.

Estava escuro.

Muito escuro, eu mal podia ver qualquer coisa.

Usando minhas mãos, procurei ao redor da mesa, sentindo por qualquer coisa, qualquer coisa mesmo que pudesse ser útil...

Minhas mãos agarraram algo e eu o peguei.

Meus olhos brilharam enquanto eu o aproximava. "Um maldito telefone."

Franticamente, liguei, meu coração batendo alto no peito.

Pela textura e pelo tamanho, eu tinha a sensação de que era...

"Oh, meu Deus... É meu telefone." Gritei de alegria quando a tela de bloqueio apareceu.

Era meu maldito telefone.

Manuseei-o com facilidade, indo para o ícone de chamada no telefone.

Ainda não estava tudo perdido.

Com uma nova onda de esperança, disquei o número do meu pai.

Meu coração batia rápido, irregular.

Eu estava me sentindo ansiosa.

Mordendo as pontas dos dedos, virei-me para verificar se havia alguém presente na sala comigo.

"Ninguém."

Estava vazio.

Meu pai não atendeu.

Talvez ele esteja apenas com medo de que não seja eu... Ou talvez ele não tenha visto a chamada.

Pensei comigo mesma, respirando fundo.

Com minhas mãos trêmulas, disquei o número dele novamente e coloquei o telefone no ouvido.

"Atende essa droga de telefone!" Gritei meio chorando, mordendo freneticamente as pontas dos dedos.

Finalmente...

Ouvi um bip.

A chamada tinha conectado.

"Pai? Pai."

"Aria, você tem 30 segundos para falar antes que essa chamada seja desconectada." A voz fria do meu pai veio do outro lado do telefone, e eu pisquei em choque. "Não quero ser rastreado."

Ele sabia que eu tinha sido sequestrada.

Mas ele... Por que ele não estava tentando me resgatar?

Eu me recusava a acreditar nisso.

"Tudo bem." Concordei com os dentes cerrados. "Alguém chamado Luca me sequestrou, pai. Ele disse que foi por algo que você fez à família dele..." Eu disse rapidamente.

"Eu não sei onde estou," tentei olhar ao redor, mas tudo estava tão escuro que não conseguia entender nada. "...mas parece um lugar abandonado..."

"Já chega, Aria." A voz fria e ansiosa do meu pai me interrompeu. "Temos menos de 10 segundos para encerrar esta ligação."

Eu congelei por um segundo.

Meu... Meu pai nem se importava com onde eu estava.

Não.

Meu pai era cruel, mas não era sem coração.

"Pai, esse homem pode ser perigoso." Tentei raciocinar com ele, mas a resposta do meu pai me chocou.

"Ele é."

Ele sabia!

"Então por que você não está tentando me resgatar?" Uma lágrima escorreu pela minha bochecha. Isso... Isso não era real.

Como um homem que eu considerava meu pai podia me deixar morrer porque estava com medo?

"Porque eu não posso. Luca não precisa realmente de você, ele está atrás de mim. Eu não posso me permitir ser capturado." Suas próximas palavras confirmaram isso.

Tudo o que eu sentia naquele momento era raiva, decepção e incredulidade.

Minha garganta se fechou e um soluço escapou. "Pai..."

Antes que eu pudesse terminar as palavras, a ligação foi desconectada.

"Eu te odeio." Murmurei lentamente, trazendo minha mão para baixo da minha bochecha.

Eu o odeio.

Eu o odiava tanto.

Exalei, piscando várias vezes para tentar controlar as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

Luca já tinha dito isso antes... Meu pai não viria.

Mas eu fui ingênua e estúpida.

Achei que ele ia me resgatar mesmo depois de se recusar a aparecer no casamento.

Eu estava errada.

Cerrei os dentes e abri o aplicativo de mapas.

Se meu pai não ia me tirar daqui, eu mesma teria que fazer isso.

Para minha surpresa... Bem, não foi tanta surpresa assim, mas...

O lugar não aparecia no mapa.

Não estava no mapa.

O que eu estava pensando? Que Luca traria seu refém para um lugar no mapa?

Mas o mapa pelo menos mostrava que eu ainda estava na cidade. Eu não podia estar tão longe.

"Eu vou ter que escapar deste lugar sozinha." Murmurei, guardando o celular no bolso. Lentamente saí do quarto, tomando cuidado para não fazer barulho.

Eu não conseguia ver muito, mas lembrava onde estava a porta, então não foi tão difícil.

"Ela deve estar aqui dentro!"

Ouvi alguém gritar de repente e minhas pernas congelaram. Tudo ao meu redor congelou, até a música nos meus ouvidos.

A voz parecia que a pessoa estava perto de mim.

Tentei me esconder, meus olhos procuravam uma saída, mas assim que me movi, ouvi a voz novamente.

"Não é ela?"

"É sim, peguem ela!" Respondeu seu colega.

"Droga!"

Droga.

Eu corri.

Era impossível me esconder agora. Eu não sabia onde estava e se havia algum lugar para me esconder, então eu corri.

Atravessei os campos... Que eu surpreendentemente acabei de descobrir que estava, meu peito batendo tão rápido que pensei que fosse colapsar.

"Não a deixem escapar!"

As vozes estavam ficando mais próximas agora...

O que eu podia fazer?

Meus pés chegaram a uma encruzilhada, eu não pensei... Apenas me movi.

Continuei correndo até que...

"Argh!"

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