Capítulo 3 CAPÍTULO 003

PONTO DE VISTA DA LAUREN

Eu limpei minhas bochechas rapidamente e tentei sorrir. Não queria que Elena se preocupasse.

"Foi só um cisco no olho da mamãe," eu disse suavemente.

Ela não parecia convencida, mas assentiu e desceu devagar, abraçando seu ursinho de pelúcia com força. Ela subiu no sofá ao meu lado e encostou sua cabecinha no meu ombro. Eu a segurei perto, respirando o cheiro suave do seu xampu infantil, tentando me manter firme.

"O papai já chegou em casa?" ela sussurrou.

Engoli o nó na garganta. "Sim... ele está lá em cima. Não quis te acordar quando chegou." Eu menti.

Ethan nem sequer tentou entrar no quarto dela e pelo menos checar como ela estava.

Ela não disse mais nada depois disso. Apenas ficou sentada ali quietinha até que seus olhos começaram a fechar novamente. Eu a carreguei para o quarto e a coloquei na cama com cuidado.

Beijei sua testa e sussurrei, "Eu te amo mais que tudo, meu amor."

Quando ela finalmente adormeceu, fui para o quarto principal. Nosso quarto. Bem, costumava ser nosso.

A cama ainda estava arrumada, intocada — Ethan não dormia nela há semanas. Ele dizia que precisava de espaço. Dizia que o trabalho estava muito estressante e não queria me acordar quando chegava tarde.

Sentei na beirada da cama, olhando para o chão. Meu peito estava apertado, e as lágrimas que eu segurei por causa da presença de Elena vieram como uma tempestade.

Me encolhi, puxei o cobertor em volta de mim e deixei sair. Soluços silenciosos e quebrados que doíam fundo nas minhas costelas. Daqueles que ninguém ouve. Daqueles que fazem você se sentir completamente sozinha.

Chorei até o travesseiro ficar molhado. Devia ter adormecido por volta das três ou quatro. O céu já começava a clarear quando finalmente fechei os olhos.

Quando os abri novamente, o quarto estava cheio de uma luz suave do dia. Minha cabeça estava pesada. Meus olhos inchados. Peguei o celular para ver a hora. Já passava das 10.

Levantei devagar, passei a mão pelo cabelo e desci.

A casa estava silenciosa.

"Senhora Lauren," Rosa disse gentilmente da cozinha. "Levei a Elena para a escola. Você estava dormindo tão profundamente que não quis te acordar."

Assenti. "Obrigada, Rosa."

Ela me deu um pequeno sorriso e continuou limpando o balcão. Fui para a sala de estar e a vi arrumando. Foi então que ela notou algo na mesa de centro.

"Oh," ela disse, pegando. "Parece do senhor Ethan."

Olhei mais de perto. Era o pen drive prateado dele — aquele que ele sempre mantinha no chaveiro. Ele usava para o trabalho. Sempre dizia que tinha arquivos importantes nele.

Rosa franziu a testa. "Ele deve ter deixado cair."

Bem nesse momento, o telefone dela vibrou. Ela atendeu rapidamente, assentindo enquanto falava em espanhol. Então se virou para mim. "Era o senhor Ethan. Ele perguntou se vimos o pen drive. Eu disse que sim."

"E?"

"Ele disse que eu deveria deixar na recepção do escritório."

Fiquei quieta por um segundo. Ele tinha que ligar para a empregada em vez de para a esposa — eu já estava acostumada. Não era nada novo. "Eu levo," eu disse.

Rosa parecia surpresa. "Você tem certeza?"

Eu assenti. "Sim. Eu vou."

Ela não fez perguntas. Apenas me entregou e disse: "Cuidado, dona Lauren."

Subi as escadas e me vesti devagar, com jeans e uma blusa, nada sofisticado. Apenas o suficiente para parecer apresentável. Minhas mãos tremiam um pouco enquanto eu penteava o cabelo.

Dirigi até o escritório do Ethan. Meus dedos apertavam o volante com força o tempo todo. Continuava pensando naquela foto de ontem à noite. Aquele batom rosa claro. O jeito que ele mentiu e me fez sentir maluca por perguntar.

Quando passei pelas portas de vidro do prédio e cheguei ao andar do CEO, a secretária da recepção olhou para cima e congelou por um segundo. Ela claramente me reconheceu. Seu sorriso era tenso e nervoso.

"Senhora Black," ela disse. "Uh... o senhor Black está em uma reunião agora."

Inclinei a cabeça. "É mesmo?"

"Sim, ele... ele não está disponível no momento. E pediu para não ser interrompido. Mas eu posso anotar seu recado, se quiser. E informá-lo quando ele terminar."

A voz dela era educada, mas o olhar não. Parecia que ela estava tentando me avisar. Como se soubesse de algo e não quisesse que eu fosse adiante.

Mas eu não parei. Nem respondi a ela. Passei por ela e abri a porta do escritório do Ethan.

E lá estava ele sentado no sofá, relaxado, sorrindo. Sentada bem ao lado dele, muito próxima, estava uma mulher que eu não reconheci de imediato.

Ela ria suavemente, sua mão repousando no braço dele como se fosse natural. Como se já estivesse ali centenas de vezes antes.

Meu coração afundou.

Ele nem ouviu quando entrei. Ele olhou para cima quando a mulher parou de rir no meio e olhou para a porta.

Quando nossos olhos se encontraram, algo em seu rosto mudou — não era culpa, nem vergonha. Apenas surpresa. Como se eu tivesse interrompido algo ligeiramente inconveniente.

Mas foi a mulher que prendeu minha atenção.

Seu rosto. Seus olhos. O jeito que ela inclinava a cabeça quando sorria — algo nisso me parecia familiar.

E então me dei conta.

Faculdade.

A ex-namorada do Ethan, Sofia Crane. A garota popular por quem Ethan era louco. A que ele sempre perseguia até que ela o deixou na mão. Naquela época, ela tinha tudo — beleza, dinheiro, conexões.

Lembro de torcer para que ela ficasse longe. Depois que terminou com ele e o fez virar motivo de fofoca na escola. Que ela nunca voltasse para a vida dele. E agora ela estava ali.

Sentada ao lado do meu marido em uma posição tão íntima.

Tudo dentro de mim ficou frio. Minhas mãos apertaram o USB com tanta força que pensei que fosse quebrá-lo ao meio.

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