Capítulo 1

Stella

"Senhora, a compensação de $1 milhão do Sr. Adrian foi depositada com sucesso." A mensagem do assistente do meu marido chega justamente quando eu recupero a consciência.

Como esposa de Adrian, o mais jovem CEO de uma empresa farmacêutica de capital aberto, todos invejam a vida que aparento ter. Mas por trás disso, é a quinta vez neste mês que sou arrastada para fora da sala de cirurgia. Meu sangue e tecidos são necessários para a empresa do meu marido, e sou obrigada a fornecê-los regularmente.

Antes de entrar neste casamento, eu sabia que era um acordo. É como se eu tivesse uma condição médica rara—uma que exige que Adrian use meu corpo para a pesquisa de sua empresa. Ultimamente, as cirurgias têm se tornado mais frequentes, e isso começa a me afetar. Em troca, eu me casei com o homem que amei a vida inteira, recebendo transferências mensais de milhões de dólares.

Sei que Adrian não é bom em expressar seu cuidado com palavras—ele mostra isso através do dinheiro. Embora, comparado ao sucesso crescente do negócio do meu marido, o que recebo seja uma mera ninharia, eu não preciso de dinheiro. O que anseio é ser valorizada pela pessoa que amo—mesmo que, para ele, eu seja mais valiosa como sujeito de seus experimentos do que como sua esposa.

O custo do sucesso de sua empresa é que Adrian está sempre ocupado. Ele está praticamente de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana. Para aliviar sua carga e ser uma boa esposa, passo mais tempo me comunicando com seu assistente do que com ele.

"Onde está Adrian? Ele virá para casa hoje?"

A resposta do assistente chega rapidamente. "Senhora, o Sr. Adrian tinha planejado visitá-la após o procedimento, mas algo urgente surgiu e sua agenda mudou. No entanto, se sentir saudades, ele dará uma entrevista no programa A Hora da Manhã, no Canal 5."

A porta do meu quarto se abre, as enfermeiras me deslizam para dentro e me colocam contra a parede, de frente para a televisão. Antes que ela possa sair, eu seguro sua mão.

"Oh! Meu marido tem uma entrevista hoje, você pode colocar para mim, por favor?" Peço gentilmente. A enfermeira acena com a cabeça e liga a televisão.

"As ações da sua empresa dispararam e isso tudo é por causa da sua pesquisa inovadora! Como é estar no mesmo nível que outros empreendedores médicos que são mais velhos e estão no ramo há muito mais tempo?" pergunta um entrevistador na tela da televisão.

Meus olhos se estreitam no rosto de Adrian, observando enquanto seus lábios se contraem em uma linha fina.

"É uma honra," responde Adrian friamente.

"Há rumores sobre seu estado civil circulando depois que você foi visto com uma atriz famosa em um restaurante na semana passada. Você acha que isso terá algum efeito nas ações da sua empresa?"

Os olhos verdes de Adrian permanecem focados no entrevistador, as mãos bronzeadas descansando no colo. Seu cabelo loiro sujo chama minha atenção; não está no seu estilo habitual penteado para trás e está muito mais relaxado. Fica atraente nele.

"Se os preços das ações mudarem, então as pessoas estão focando na coisa errada," o tom de Adrian se torna sério, irritado.

Ele permanece leal a mim, sempre mantendo as mulheres à distância. Embora ele não me ame, também não ama nenhuma outra mulher—talvez porque dedica todo o seu tempo à carreira.

Adrian não gosta de ter qualquer mulher em casa além de sua esposa, o que significa que não temos empregada. As pesadas tarefas domésticas me forçam a desistir do trabalho de meio período com programação que eu costumava confiar. Sou muito boa em escrever código—talvez uma das hackers mais talentosas na minha área.

Uma vez, eu criei um firewall para o Pacto de Obsidiana, uma das máfias mais poderosas de hoje. Mesmo depois de anos, ele continua intocável. Vários dos jovens líderes deles têm grande consideração por mim, até me chamam de irmã. Sou grata pelo apreço deles. Mas para Adrian e seus negócios, eu escolhi desistir.

Talvez Adrian não me ame agora, mas acredito que, com o tempo, meus esforços serão finalmente notados.

Meu telefone toca no meu colo. Eu o viro e vejo a foto de contato e o nome da minha mãe. Respiro fundo e aperto o botão verde para aceitar, levando o telefone ao ouvido.

Eu sei que ela não está ligando para saber como estou.

"Stella! Por que você não está cuidando da sua irmã?! Você sabe que ela precisa de você!" A voz da minha mãe grita do outro lado da linha.

"Estou doente. Não sei o quanto posso ajudar a Clara," respiro no telefone.

"Sua irmã está em coma há cinco anos e aqui está você reclamando de uma doença menor. Levante-se e cuide da sua irmã. Agora!"

Antes que eu possa responder, minha mãe encerra a chamada, me deixando em silêncio. O gosto amargo de antes volta.

Minha mãe só se importa com Clara e não comigo. Será porque Clara tem os mesmos olhos azuis enquanto os meus são castanhos?

Suspiro, lentamente balançando as pernas para o lado da cama do hospital. Uma tontura me invade, e eu me seguro na haste de metal que carrega minha bolsa de soro para me equilibrar. Respiro fundo e abro os olhos, saindo lentamente do quarto do hospital.

Eu me apoio na parede, caminhando em direção ao quarto de hospital de Clara, telefone na mão.

Ao mesmo tempo, saio do aplicativo e abro um de rastreamento. Como Adrian está tão ocupado e não pode sempre estar lá para mim, eu criei um programa para rastrear seus movimentos. É meu pequeno segredo—um que ninguém sabe, nem mesmo Adrian.

Meus olhos imediatamente se fixam no nome e na bolha de Adrian. Ele está se movendo na direção do hospital. Meu coração se enche, um sorriso crescendo no meu rosto.

Talvez ele esteja tentando manter isso em segredo de sua assistente, planejando me dar uma surpresa especial. Talvez ele realmente se importe comigo, afinal. Ele finalmente está vindo me ver, sua esposa, certo? Sim!

Dez anos atrás, quando Adrian e eu éramos vizinhos, eu me apaixonei por ele. Ele era a única pessoa na vizinhança que me tratava com gentileza enquanto minha família me tratava como uma ideia secundária. Eu sinceramente espero que ele finalmente tenha percebido que estou aqui.

Pego meu telefone e vejo o ponto de Adrian entrar no hospital. Olhando para cima, Adrian irrompe pelas portas do corredor. Rapidamente arrumo minha aparência, pronta para recebê-lo de braços abertos, quando ele de repente entra no quarto de hospital de Clara.

A decepção atinge meu coração, um milhão de perguntas coçando no fundo da minha mente. Minhas palmas ficam suadas. A esperança que eu tinha de que Adrian me amasse começa a murchar, lentamente se desfazendo pedaço por pedaço.

Ele não está aqui por mim? Por que mais ele estaria no hospital?

Minha boca fica seca. Piscar para o nada, braços vazios, lentamente me viro para ver Adrian abraçando Clara na cama do hospital. Entrando devagar, eu fico ao fundo, observando o corpo de Clara se mover.

Ela está acordada do coma de cinco anos.

Seus olhos permanecem fechados, queixo apoiado no ombro dele. Eles balançam para frente e para trás. Seus sussurros são apenas murmúrios para mim, incapaz de decifrar o que estão dizendo.

Eles parecem tão íntimos um com o outro.