3.
Eu queria gritar a plenos pulmões e acordar todo o bairro. Mas, o problema era que o grito morreu cedo na minha garganta e eu só consegui ficar ali, parada, com a boca e os olhos bem abertos de horror.
"Vai lá, me chama de gostosão," o bonitão sorriu, encostado na cabeceira da cama com os braços cruzados atrás da cabeça.
Eu estava pensando mais em algo como perseguidor...
Levei dois minutos para fechar os olhos, inspirar profundamente e me recompor. Durante todo esse tempo, o bonitão forneceu a trilha sonora com seu assobio.
"Que droga!" eu rugi, assim que recuperei a voz, "Seu perseguidor pervertido! Como diabos você me encontrou? Vou chamar a polícia!"
O bonitão levantou uma sobrancelha para mim, "Tem certeza de que vai chamar a polícia para mim, pequena criminosa?"
Isso tirou todo o ar que restava do meu sistema.
"Eu-eu não sou criminosa! Você não me conhece!" retruquei, fraca.
"Bem, vamos ver..." o bonitão disse, levantando a mão, "Eu sei que, um, você está fugindo da polícia," ele afirmou, contando nos dedos, "dois, você soca quem tenta te ajudar,"
"Ei-" comecei a protestar, mas ele me cortou, levantando o terceiro dedo.
"três, você é ingrata pra caramba com seu salvador, quatro, você é uma desertora. Usa e descarta a pessoa que salva sua pele. Cinco, sua identidade inteira é suspeita. Seis, você é uma invasora de festas. Sete, você é muito boa em desviar de perguntas. Acho que esses pontos são suficientes para provar que você é suspeita,"
Maldito ele e sua beleza e suas... habilidades de observação!
"Saia da minha cama!"
Isso foi tudo que eu consegui dizer depois do longo discurso dele sobre minhas qualidades suspeitas.
"Tsk. Tsk. Desviando de perguntas," ele zombou.
Cerrei os punhos e marchei em direção a ele. Não havia como eu contar uma única coisa sobre mim para ele.
"Vou dizer isso pela última vez. Saia daqui!" eu gritei para ele.
"Não posso fazer isso," ele disse, casualmente, "até eu receber minhas respostas."
"Você não vai conseguir nada, gost- quero dizer, amigo," eu fervi, puxando seus bíceps musculosos, tentando tirá-lo dali.
Mas, a situação se inverteu no segundo seguinte, quando ele me puxou de repente, fazendo com que eu caísse sobre ele de maneira nada graciosa.
Antes que eu pudesse bater nele, ele agarrou minhas mãos e nos virou, me prendendo completamente.
"Eu sempre consigo o que quero," ele sorriu para mim, "especialmente se for relacionado a algum potencial criminoso que eu ajudei a escapar,"
"Pela última vez, não diga isso quando você não sabe nada sobre mim!"
"Então me conte," ele disse, seriamente, seus olhos azuis elétricos penetrando os meus.
Tive que inspirar fundo, pela intensidade que seus olhos radiavam. Parecia que eu ficaria cega se continuasse olhando para eles por muito tempo. Minha mente já estava girando com o cheiro delicioso que entrava nas minhas narinas.
Fiz uma nota mental para perguntar a ele o nome do perfume e do shampoo depois.
Sério? Minha voz interior revirou os olhos.
Isso me tirou do transe e eu o encarei.
"Só porque você me ajudou, não significa que vou te dar meus dados pessoais," eu zombei, "Eu nem sei seu nome, pelo amor de Deus-"
"Se é isso que você quer saber, meu nome é Alex," ele interveio.
Graças a Deus, ele me disse. Pelo menos eu poderia parar de pensar nele como bonitão!
"Olha, Alexandre, o grande-"
"Alex!" ele rosnou, me interrompendo.
Franzi a testa para ele.
"Isso não é abreviação de Alexandre?" perguntei.
"Não é da sua conta," ele resmungou, "só me chame de... Alex."
Ooh. Alguém estava irritado com seu nome.
Dei um sorriso malicioso, "Agora eu vou definitivamente te chamar de Alexandre."
Seu aperto nos meus pulsos apertou dolorosamente, "Pare de brincar e me dê as respostas que eu preciso."
Oh, cara, irritá-lo era tão divertido! Talvez, eu pudesse passar o tempo assim até a inspetora deste lugar vir para sua inspeção diária por volta das 22h e expulsá-lo.
"Hmm..." fiz uma cara pensativa, "deixe-me ver, Alexandre. Acho que não quero divulgar nenhum tipo de informação para um perseguidor, que por tudo que sei pode ser um potencial serial killer. Quero dizer, cara, como você me encontrou aqui? E, como diabos você entrou em um alojamento feminino?"
Ele fechou os olhos, respirando fundo. Pelo músculo que pulsava em sua mandíbula, eu podia facilmente deduzir que, se pudesse, ele teria me estrangulado com prazer agora.
"Eu segui aquele carro em que você veio e subi naquela árvore do lado de fora da sua janela para entrar," ele disse simplesmente, como se não fosse nada demais.
Por um momento, fiquei sem palavras. Então, uma grande pergunta surgiu na minha cabeça.
"Eu não entendo. Por que você foi a tais extremos?" perguntei a ele.
"Para ter certeza de que eu não estava realmente ajudando uma criminosa," ele respondeu sinceramente, "então, me diga agora, por que a polícia está atrás de você?"
Mordi o lábio. Esse garoto estava andando em círculos. Toda conversa com ele caía na mesma pergunta repetidamente. E, ele não parecia que desistiria tão cedo.
"Você poderia, por favor, parar de me distrair por um segundo e responder minha pergunta?" ele murmurou, irritado.
O que eu fiz agora? Eu nem disse nada!
"Eu não fiz nada para te distrair!" eu gritei.
Seus olhos se voltaram para meus lábios, "Pare de fazer isso com seus lábios!"
Oh meu Deus! Era disso que ele estava falando?
"Por quê?" eu o provoquei, "Está te afetando?"
"De jeito nenhum!" ele rosnou, e desta vez me soltou, levantando-se da cama e evitando meu olhar, "Para sua informação, nada em você me afeta. Só me irrita. Estou surpreso por ainda não ter te matado."
Isso me deixou realmente irritada. Não que eu estivesse interessada nele ou quisesse que ele se interessasse por mim, mas, ninguém além do meu irmão tinha o direito de ser rude comigo. E, esse garoto estava quebrando todos os recordes agora.
Antes que eu pudesse dar uma resposta, houve uma batida na porta.
"Oh, deve ser a inspetora," informei Alex com um sorriso, "para a inspeção diária."
Alex me lançou um olhar furioso, "Isso ainda não acabou," ele declarou, marchando em direção à janela para descer de volta.
"Espere!" corri atrás dele, rapidamente.
Ele se virou com uma expressão de confusão, "Já está sentindo minha falta?" ele perguntou, com um leve sorriso no canto dos lábios.
Revirei os olhos por dois motivos, primeiro, esse garoto era mais arrogante do que eu, e segundo, ele nem sabia sorrir direito. Quero dizer, eu só o tinha visto ou sorrindo de forma sarcástica ou zombando de mim, se deixarmos de lado as outras expressões negativas.
"Eu só queria saber a marca do seu shampoo," eu disse a ele.
Ele me deu um olhar que dizia que estava contemplando minha saúde mental, então balançou a cabeça e foi embora, me deixando ali parada, confusa.



































