#1 A entrevista

POV da Evelyn

Todo dia é um novo dia para mim, um novo começo. Houve momentos em que eu era grata por cada dia que eu vivia, porque nunca sabia o que aconteceria no próximo.

Hoje não era apenas mais um novo dia. Pelo contrário, hoje eu tinha uma entrevista de emprego. Minha melhor amiga ouviu que a Leclair Corporations estava procurando uma secretária, e eu enviei meu currículo sem pensar duas vezes. Trabalhar em uma das maiores empresas do mundo era o sonho de qualquer pessoa lógica, certo?

Há cerca de seis meses, eu terminei minha graduação em Literatura Inglesa e Escrita Criativa. Durante a faculdade, trabalhei principalmente como garçonete ou assistente de loja. Para ser honesta, meu currículo não era muito atraente, e minhas chances de ser contratada eram pequenas, mas isso não me impediu de tentar. Eu sabia por experiência própria que milagres acontecem nesta vida.

Tomei um banho rápido e comecei a me arrumar. Apliquei uma camada fina de maquiagem e prendi meu longo cabelo loiro liso em um penteado baixo. Meus olhos azul-claros iluminavam meu rosto oval. Optei por um batom nude para aplicar nos lábios; o pequeno biquinho natural que eles têm os fazia parecer mais cheios. Vesti uma blusa off-white e uma saia lápis preta; o cinto de couro preto ao redor da minha cintura complementava minha figura esbelta e alta. Completei meu visual com meus saltos de dez centímetros - não que eu precisasse de mais altura.

Fui até a cozinha e encontrei minha melhor amiga e colega de quarto tomando uma xícara de café.

"Bom dia, Sophie!" eu a cumprimentei.

"Olá, Evelyn! Você está linda!" ela disse com um sorriso radiante.

"Você acha? Tenho essa entrevista hoje, então quero parecer apresentável," eu disse, verificando minha aparência mais uma vez.

"Sim, querida. Apenas lembre-se de sorrir e ser confiante! Tenho certeza de que você conseguirá o emprego," Sophie me tranquilizou.

"Oh, obrigada!" eu respondi, corando um pouco.

Fiz torradas francesas, bebi um copo de suco e tomei minha medicação. Sophie continuou reclamando sobre o namorado atual enquanto eu terminava meu café da manhã e lavava a louça. Minha melhor amiga era uma beleza clássica, alta, mas com curvas nos lugares certos. Seu cabelo castanho chocolate e seus olhos castanhos escuros combinavam perfeitamente com sua pele bronzeada.

"Sophie, siga seu coração. Se você está infeliz com esse homem, então acho que ele não é o certo para você," eu aconselhei minha melhor amiga.

Ela me deu um sorriso triste em resposta. "Eu sei, mas hoje à noite vamos comemorar seu novo emprego e meu término..."

"Ok, vamos ver..." eu ri e me certifiquei de que tudo o que eu ia precisar estava na minha bolsa.

Vesti meu casaco francês preto, acenei para minha melhor amiga e saí do nosso apartamento.

Conheci Sophie durante a faculdade. Frequentei o primeiro ano dos meus estudos online devido à minha condição de saúde frágil. Não era algo diferente para mim, já que fui educada em casa a vida toda. Nasci com um problema cardíaco, e quando tinha dez anos, já tinha insuficiência cardíaca moderada. Meus pais eram superprotetores comigo; nunca me deixaram brincar como uma criança normal ou ir à escola. Eu praticamente tive a infância mais chata do mundo.

Estava no segundo ano dos meus estudos quando tudo mudou na minha vida. Finalmente tive a chance de viver como uma mulher normal. Saí da casa dos meus pais, aluguei um estúdio perto do campus, fui a festas, dormi tarde, conheci garotos, me apaixonei.

Isso não significa que vivi de forma imprudente. Pelo contrário, nada de bebidas, nada de fumar, nada de junk food era permitido para mim. E claro, nada de sexo sem proteção. Eu podia me divertir, mas ter estado à beira da morte uma vez faz você reconsiderar muitas coisas...

Peguei o metrô e fui em direção ao prédio da Leclair Corporation. Tive que caminhar um pouco, mas isso não me incomodou. As pessoas passavam apressadas por mim, o som de buzinas de carros era ouvido de vez em quando, e em um momento, uma série de palavrões chamou minha atenção; quase houve um acidente de carro.

Um arranha-céu, com pelo menos sessenta andares, feito de vidro escuro, apareceu à vista, e eu instantaneamente entendi que havia chegado ao meu destino. Li as letras prateadas que simplesmente diziam Leclair Corporation acima da entrada principal, e um arrepio percorreu minha espinha.

Por um momento, pensei que talvez fosse melhor dar meia-volta e voltar para casa. Depois de uma pequena conversa interna de incentivo, suspirei e entrei pelas portas em um saguão de mármore maravilhoso. Homens e mulheres bem vestidos passavam por mim, alguns lançando olhares para mim ou outros completamente ignorando minha presença como se eu fosse uma praga.

Mordi meu lábio inferior nervosamente e me dirigi à recepcionista.

"Olá, como posso ajudá-la?" uma jovem com um tom entediado me perguntou.

"Oi, sou Evelyn Russell e estou aqui para uma entrevista de emprego," respondi com um pequeno sorriso.

"Claro que está," a recepcionista respondeu e então digitou freneticamente algo no computador à sua frente.

Olhei para ela, confusa por um momento, mas decidi não perguntar o que ela estava insinuando. Depois de alguns momentos, ela me entregou um crachá com meu nome escrito nele.

"Vá para o sexagésimo andar, usando um desses elevadores, e lá eles dirão o que fazer a seguir," ela instruiu, seus lábios vermelhos se contorcendo em um sorriso falso.

"Ok, obrigada," respondi e saí prontamente.

Levei quase cinco minutos para chegar ao sexagésimo andar porque o elevador parava em todos os outros andares. Quando finalmente cheguei ao meu destino, vi uma nova recepção com duas recepcionistas esperando. Repeti minhas palavras de antes e mostrei meu crachá. Elas me pediram para sentar em uma pequena sala de espera até que fosse minha vez para a entrevista.

Entrei em uma sala onde pelo menos outras dez mulheres estavam esperando. Todas pareciam modelos, vestidas com mini saias e tops reveladores. Algumas delas me olharam com desdém, mas eu as ignorei e encontrei um assento livre.

Como tinha algum tempo livre, consegui verificar minhas contas nas redes sociais e trocar algumas mensagens com minha mãe. Depois do que pareceu uma hora, ouvi uma mulher chamando meu nome. Ela sinalizou para eu segui-la, e eu fiz como ela disse. Ela me levou a um escritório de tamanho médio, cheio de livros e outros arquivos.

"Olá, Srta. Russell, sou Tonia Lark," disse a mulher de meia-idade, estendendo a mão para mim.

"É um prazer conhecê-la, senhora," respondi educadamente, apertando sua mão.

Ela colocou os óculos e leu o que eu supus ser meu currículo. Isso me deu alguns minutos para observá-la melhor. Ela parecia ter quase cinquenta anos, não era muito alta e tinha alguns quilos a mais. Seu cabelo preto estava misturado com alguns fios grisalhos, seus olhos eram castanho-escuros e suas sobrancelhas finas e arqueadas estavam franzidas enquanto ela estudava os documentos à sua frente.

Depois de ler meu currículo e as Cartas de Referência, ela me fez algumas perguntas, principalmente sobre meus estudos e minha experiência de trabalho anterior. Ela perguntou por que eu queria trabalhar na Leclair Corporation e por que eu achava que me encaixava nos requisitos do trabalho. Tentei responder o mais honestamente possível, e depois que nossa pequena reunião terminou, um pequeno sorriso se espalhou em seus lábios.

"Muito obrigada por vir aqui hoje, Srta. Russell. Se conseguir o emprego, você receberá um telefonema nosso até amanhã à noite," ela disse.

"Obrigada, Sra. Lark. Tenha um bom dia," respondi com um sorriso educado e saí do escritório.

Felizmente, desta vez, a viagem no elevador foi mais curta. Saí rapidamente daquele prédio e imediatamente senti um peso sair dos meus ombros. No caminho de volta para casa, tentei organizar minha agenda para a tarde. Prepararia o almoço para Sophie e para mim, e depois teria tempo livre suficiente para arrumar meu quarto. Quando Sophie voltou do encontro, ela não estava com humor para sair. Então, em vez disso, pedimos comida e assistimos a uma comédia na TV. O filme nos fez rir e animou um pouco minha melhor amiga.

O dia seguinte foi bastante tranquilo; limpei a casa e cozinhei o almoço. À tarde, fui com Sophie ao parque próximo para correr. O tempo ainda estava quente, então preferi me exercitar na natureza do que em uma academia fechada. Quase tinha esquecido da entrevista de emprego até que meu telefone tocou. O número era desconhecido, e por um segundo, hesitei em atender.

"Alô?" atendi após o terceiro toque.

"Oi, Srta. Russell, é você?" uma voz feminina perguntou.

"Sim. Com quem estou falando, por favor?"

"Srta. Russell, sou Tonia Lark; estou ligando da Leclair Corporation."

"Claro. Desculpe por não reconhecê-la antes. Como posso ajudá-la?"

"Está tudo bem, querida. Fiquei muito satisfeita com sua entrevista, e você parece ter todos os critérios necessários para trabalhar em nossa empresa," anunciou a mulher.

Quase gritei de alegria. "Sério? Muito obrigada, Sra. Lark!" disse feliz.

"Você será a nova secretária do Sr. Leclair. Quando poderá começar a trabalhar?" continuou a Sra. Lark, e dessa vez quase deixei meu telefone cair.

Eu seria a nova secretária do Sr. Leclair!? Sr. Leclair, como em Sebastian Leclair?

Ah, não! Eu estava totalmente ferrada...