O governador
Em um canto isolado do mundo, onde os sussurros da floresta se misturavam com os ecos do desespero, Emily e Joe se encontravam dentro de uma cabana bem fortificada. A atmosfera lá dentro era densa de incerteza. As janelas estavam tapadas para afastar os perigos que espreitavam do lado de fora, permitindo que apenas leves raios de sol penetrassem pelas frestas. Parecia surreal, como uma cena arrancada das páginas de um pesadelo. "Será que tudo isso é real?" ponderou Emily silenciosamente, em sua mente. As ameaças das quais haviam escapado por pouco na noite anterior ainda pairavam vividamente em suas mentes—bestas estranhas rondando nas sombras, um lembrete aterrorizante dos perigos que os levaram a esse refúgio remoto. Agora, enquanto estavam com o Xerife Bullock, sua ansiedade crescia a cada momento que passava. O que perguntariam ao governador? Como sairiam dessa cidade amaldiçoada? Ao passarem cautelosamente pela sala principal, notaram as pinturas desgastadas que pendiam nas paredes—um testemunho tanto da história quanto do abandono. Algumas velas tremeluzentes forneciam uma iluminação cansada, lançando sombras oscilantes que dançavam como espectros nos cantos. Joe e Emily trocaram olhares, ambos tentando avaliar a profundidade da realidade perturbadora em que se encontravam.
O Xerife Bullock os conduziu até uma porta pesada no fundo da sala. Esse era o momento que ambos antecipavam e temiam em igual medida. O coração de Emily batia forte em seu peito enquanto ela estava atrás do xerife. Com um empurrão decisivo, Bullock abriu a porta, anunciando: "Ele está esperando por vocês." O casal cruzou o limiar, entrando em uma sala iluminada por duas janelas. A luz do sol refletia nas superfícies, momentaneamente cegando-os enquanto ajustavam seus olhos. No centro da sala, viram o contorno de um homem sentado à mesa. À medida que o foco se aguçava, a figura passava da obscuridade à clareza. "Olá, é um prazer conhecê-los," o homem os cumprimentou, levantando-se lentamente da cadeira com um ar de autoridade. Seus traços eram grisalhos e marcados pelo tempo, sugerindo que ele havia visto mais do que sua cota de tribulações. Nesse momento, o som da porta se fechando com força atrás deles ecoou de forma ominosa, fazendo ambos estremecerem. Emily instintivamente agarrou a mão de Joe, buscando consolo em sua presença. Com uma determinação firme, Emily deu um passo à frente. "Eu gostaria de dizer que é um prazer conhecê-lo também, mas onde estamos?" sua voz tremia ligeiramente, presa entre o medo e a frustração enquanto ela observava a sombra do governador se movendo ao redor da mesa, escapando do brilho intenso do sol.
O governador se virou, estendendo a mão para Joe. O aperto de mão era firme, exalando uma presença intimidadora. "Vocês estão aqui," ele respondeu, seu tom quase enigmático. "E aqui é lugar nenhum." A testa de Joe se franziu em confusão. "Lugar nenhum? O que você quer dizer com lugar nenhum?" Sua frustração era palpável, e o ar se espessava com perguntas não ditas. Com um sorriso que parecia dançar nas bordas de seus lábios, o governador se inclinou ligeiramente mais perto, como se compartilhasse um segredo que era ao mesmo tempo pesado e esclarecedor. "Bem, estamos em algum lugar, mas ninguém sabe realmente onde estamos."
As palavras pairaram no ar, provocando um turbilhão de pensamentos nas mentes de Emily e Joe. Eles estavam em uma cidade envolta em mistério, confrontando um líder enigmático com motivos desconhecidos. Que verdades estavam escondidas em seu sorriso? Que perigos espreitavam além das paredes da cabana? O casal trocou outro olhar, um acordo silencioso de que precisavam desvendar as camadas dessa estranha realidade se tivessem alguma esperança de escapar das garras das bestas que quase haviam tirado suas vidas. À medida que o sol se punha, lançando sombras alongadas pelo chão, Emily e Joe se prepararam para uma conversa que não apenas avaliaria sua determinação, mas redefiniria sua compreensão de sobrevivência. Em um lugar que parecia estar na linha tênue entre sonho e realidade, o caminho para as respostas permanecia envolto em incerteza. Mas uma coisa era clara: seu tempo nesse estranho lugar nenhum estava apenas começando.
Enquanto o governador os examinava, perguntou: "Algum de vocês está ferido de alguma forma? Temos uma parteira e um tipo de médico aqui," acrescentou com um sorriso leve. Emily, visivelmente abalada pelo ocorrido mais cedo, reuniu forças e respondeu: "Não, estamos bem." Enquanto isso, Joe se viu preso em um olhar fixo com o governador, questionando silenciosamente sua sinceridade. Ele realmente se importa conosco, ou isso pode ser apenas um truque? O governador, alheio ao turbilhão interno de Joe, animou-se com a resposta deles. "Isso é ótimo! Novos visitantes são raros aqui. Faz tempo desde que alguém apareceu em nossa cidade." Seu entusiasmo parecia genuíno, mas Joe permanecia cauteloso. Com a curiosidade aguçada, o governador mudou a conversa para o passado de Joe. "O que você fazia na vida? Que tipo de trabalho você tinha e para onde estava indo antes de chegar aqui?" Com uma mistura de orgulho e apreensão, Joe respondeu: "Sou historiador e professor. Acabei de aceitar um novo emprego em uma universidade para dar aulas, com um salário e benefícios incríveis." Ele respirou fundo, relembrando a cadeia de eventos que os levou a esse lugar estranho. "Estávamos nos arredores de Washington quando encontramos um acidente. Depois de pegar um desvio pelas montanhas arborizadas, nosso carro superaqueceu. Decidimos caminhar em busca de ajuda, o que nos trouxe até aqui." Os olhos do governador brilharam de interesse. "Você estudou línguas antigas? Que fascinante!" ele murmurou para si mesmo, claramente contemplando o potencial conhecimento que Joe poderia trazer para a cidade. "Sim, senhor, eu estudei!" Joe respondeu, sentindo um leve orgulho crescer dentro de si.
Voltando-se para Emily, o governador perguntou: "E você? O que fazia?" Com uma nova confiança, Emily respondeu: "Eu era enfermeira meio período e treinadora de animais de estimação no meu tempo livre. Especializava-me em cães." Uma risada calorosa escapou dos lábios do governador enquanto ele se sentava novamente em sua cadeira. "Ótimo! Alguém finalmente pode ensinar nosso cachorro da cidade, Gizmo, a ter boas maneiras!" Sua risada ressoou na sala, mas para Emily e Joe, o humor era agridoce. Ali estavam eles, estranhos em uma cidade desconhecida, enquanto a jovialidade do governador mascarava as tensões subjacentes de sobrevivência dentro dessa comunidade unida. À medida que a conversa continuava a fluir, Emily e Joe se viam navegando no delicado equilíbrio entre a gratidão pela hospitalidade do governador e o instinto de permanecerem cautelosos. Estavam cientes de que haviam entrado em um reino onde a linha entre segurança e perigo frequentemente se confundia.
Joe não conseguia se livrar da sensação de que a declaração do governador sobre "manter a ordem" insinuava um controle abrangente, e as apostas eram mais altas do que ele inicialmente pensara. À medida que se aprofundavam em suas respectivas histórias, lutavam cautelosamente com a realidade de serem recém-chegados em um lugar que parecia acolhedor, mas tinha uma corrente subjacente de perigo potencial. Enquanto o governador contava tranquilamente histórias do passado da cidade para os dois recém-chegados, Emily e Joe, suas palavras pairavam no ar como uma doce promessa de mudança. "Bem, parece que suas habilidades seriam muito úteis aqui e ajudariam esta cidade a prosperar," murmurou, olhando para eles com uma mistura de expectativas e cautela. Antes que a conversa pudesse se aprofundar, uma batida alta quebrou a calma, puxando a atenção deles para a pesada porta de madeira. "Entre," o governador bradou.
Entrou uma figura, um homem vestido com roupas esfarrapadas de um velho pregador, que pendiam frouxamente de seu corpo magro. Sua presença imediatamente silenciou a sala enquanto ele se apresentava. "Ah! Padre, que bom vê-lo! Em que posso ajudá-lo?" o governador cumprimentou, seu comportamento mudando para um de familiaridade. "Eu só queria vir ver a verdade sobre os novos moradores da cidade," o pregador respondeu com uma voz suave. "Você sabe como os rumores se espalham por aqui." Enquanto falava, estendeu a mão para Joe e Emily, apertando suavemente as mãos deles. "É ótimo conhecê-los. Sou o Padre John, mas podem me chamar apenas de 'Padre' se preferirem." Joe sorriu, respondendo, "É um prazer conhecê-lo." Emily acrescentou, seu coração batendo um pouco mais rápido diante da gentileza do Padre John. "Sim, Padre, é um prazer conhecê-lo." Ela não pôde deixar de notar que ele não era apenas gentil, mas inegavelmente bonito, com olhos que guardavam segredos da floresta além.
O governador, percebendo a atmosfera amigável, interrompeu: "Sim, eles causaram um pouco de alvoroço na noite passada." Sua voz assumiu um tom sério enquanto continuava, "Veja, as bestas normalmente não chegam tão perto da cidade. Elas ficam na floresta, ocasionalmente rondando, procurando comida. Se o cheiro de carne cozinhando ainda está no ar, é quando elas vêm farejando." Ele fez uma pausa momentânea, o peso de suas palavras pairando sobre a sala. "É por isso que há uma lei estrita—nada de cozinhar após o almoço." Joe assentiu, tentando processar essa realidade estranha e perturbadora. "Isso faz sentido," disse ele, sua confiança começando a vacilar sob o olhar intenso do governador.
Notando suas expressões mistas de confusão, o governador tentou tranquilizá-los. "Então, parece que vocês dois terão que ficar sozinhos," afirmou, um toque de malícia brincando nos cantos de seus lábios. "Todas as cabanas com moradores estão lotadas, mas isso é uma ótima oportunidade para vocês refletirem sobre tudo o que aconteceu e o que viram." Emily e Joe trocaram olhares incertos. Finalmente, Joe falou com firmeza, "E se quisermos ir embora?" A expressão do governador se transformou em um sorriso arrogante. "Muito bem! Enviarei um guia com vocês amanhã na direção que escolherem. Ele pode guiá-los para fora," disse ele. No entanto, seu tom mudou ligeiramente, transbordando autoridade, "Mas já é tarde demais hoje. Vocês não sairão vivos se tentarem esta noite." Ele então pensou silenciosamente consigo mesmo, essas pessoas simplesmente não entendem, não é?
O Padre John observou a troca com preocupação. Ele entendia que algumas lições teriam que ser vividas em vez de contadas, uma verdade frequentemente assumida como evidente para aqueles não familiarizados com a selva ao redor da cidade. O governador finalizou a conversa, "Vocês ficarão na cabana doze. É 'A Lua de Mel', curiosamente. Vão explorar a cidade, mas fiquem longe da floresta quando o sol se puser no oeste. Venham para a grande fogueira para o almoço," instruiu antes de olhar para o Padre John, "Você poderia mostrar a cabana para eles?"
"Com prazer," respondeu o Padre John, um sorriso caloroso se espalhando em seu rosto, e fez um gesto para que Emily e Joe o seguissem. Enquanto caminhavam pelas ruas de terra empoeiradas, Emily sentiu o peso das palavras do governador se assentando sobre ela como uma névoa espessa. Ela olhou ao redor, notando os olhares peculiares dos moradores e sentindo que a fachada pacífica dessa cidade era mais uma camada superficial do que uma realidade. "O que você acha do governador?" Joe perguntou, quebrando sua reverie. "Não sei," Emily respondeu pensativamente. "Ele é charmoso, mas há algo inquietante na maneira como ele fala sobre a floresta e aquelas 'bestas'. Não consigo me livrar da sensação de que ele quer nos manter aqui por algum motivo." Quando se aproximaram da cabana doze, sua madeira desgastada e varanda pitoresca os acolheram, mas o ambiente parecia estranhamente distante. Naquele momento de antecipação, Emily percebeu que sua jornada nesta cidade estava apenas começando.
"Ela é uma beleza, não é?" comentou o Padre John, sua voz rica de nostalgia e orgulho enquanto gesticulava em direção à pequena morada. Com suas vigas de madeira desgastadas e um telhado robusto, a cabana contava histórias de anos passados, enquanto flores vibrantes floresciam alegremente em ambos os lados, lançando uma aura pitoresca difícil de resistir. "Nós a chamamos de 'Lua de Mel'," afirmou o Padre John. Enquanto Emily estava em frente à Lua de Mel, sentiu seu coração acelerar. "É uma cabana linda," refletiu, admirando como a tinta desbotada e o charme rústico possuíam um caráter próprio. Mas, sob sua admiração, havia um lampejo de apreensão—uma sensação de que a Lua de Mel não era apenas um lugar para um retiro pacífico, mas também guardava seus próprios segredos.
A postura do Padre John mudou enquanto ele se preparava para dar instruções vitais. "Vocês devem estar dentro antes do pôr do sol," declarou com uma seriedade que silenciou seus desejos de aventura. "Fechem as persianas, tranquem a porta, e vocês ficarão bem. Tentem ficar quietos e juntem um pouco de lenha antes do pôr do sol. Vocês podem encontrá-la no galpão ao lado da grande fogueira." Seus olhos escureceram momentaneamente enquanto ele acrescentava, "Não importa o que ouçam, não abram a porta até que o sol rompa os céus escuros e enevoados."
O Padre John perguntou, "Posso deixar vocês com uma oração?" Joe, sempre cético, não conseguia afastar o desconforto que crescia dentro dele. O que poderia machucar seguir suas palavras? Apesar de seu turbilhão interno, ele se viu contemplando a insistência do Padre John. Emily, sempre esperançosa e brilhante, exclamou, "Sim, Padre, adoraríamos isso!" E sem hesitação, todos deram as mãos, formando um círculo de unidade marcado pela incerteza. O Padre John começou a orar, sua voz um bálsamo suave contra a crescente tensão no ar. "Ó Senhor, esteja com nosso Joe e Emily esta noite enquanto eles dão um salto em um mundo de medo e incerteza. Continue a guiar esta cidade com sua mão sobre nós e seu amor por nós. Obrigado pela bênção de estarmos aqui na cidade. Em Seu nome, oramos." Ele terminou firmemente, e o peso de suas palavras pairou pesadamente no crepúsculo.
Tanto Emily quanto Joe ecoaram um solene "Amém," mas os pensamentos de Joe fervilhavam de ceticismo. Uma bênção estar aqui? Ele está na mesma cidade que nós? A fachada pitoresca e as paisagens encantadoras pareciam justapostas contra a estranha aura que envolvia a Lua de Mel e seus arredores. Quando suas mãos se soltaram e o Padre John começou a caminhar de volta pelo caminho sinuoso em direção ao centro da cidade, Emily lançou um olhar para ele, calor irradiando de seu ser. "Obrigada, Padre," disse, seus olhos brilhando de admiração enquanto se demoravam em seu rosto encantador. No entanto, enquanto Emily o observava partir, sentiu uma tensão inexplicável crescendo dentro dela. Havia algo no aviso do Padre John, na urgência em sua voz, e no charme pitoresco da cidade que a deixava inquieta. O apelo da Lua de Mel chamava, prometendo beleza e aventura, mas nas sombras também sussurrava o desconhecido. Emily não pôde deixar de se perguntar o que os aguardava. Encontrariam consolo no abraço da Lua de Mel, ou desenterrariam medos e segredos enterrados que a cidade há muito mantinha escondidos?
































