Capítulo 2 Mulher misteriosa

Valerie

Leilão?

Meu cérebro ficou em branco por um segundo. Então percebi o que isso significava.

Eu era a pessoa que seria leiloada esta noite. Como uma escrava sexual.

Como isso é possível?

Os escravos discutiram isso o dia todo ontem. Disseram que seria algo especial. Mas eu nunca prestei atenção nisso.

A primeira vez que Ava falou sobre leilões, ela me disse que procuravam garotas com beleza impecável, o que obviamente me excluía por causa da minha marca de nascença peculiar no abdômen inferior.

Então, como é possível que me escolheram?

Os leilões geralmente aconteciam no final de cada mês, onde escolhiam uma escrava virgem para os ricos darem lances com outras joias ou pedras preciosas.

Os escravos debatiam sobre isso. Alguns acreditavam que era um ritual maligno de monstros. Mas a maioria achava que era uma chance de buscar novas vidas.

“Você não precisa ficar naqueles estábulos imundos de escravos por semanas até que alguém te pegue! E os convidados eram sempre ricos, então pelo menos você receberia roupas quentes e comida suficiente.” Ava sempre sonhou em ser selecionada. E sempre que ela fantasiava sobre isso, abaixava a voz e colocava um sorriso desejoso.

Mas ninguém sabia como era, o leilão, para onde as garotas realmente iam e qual seria o destino delas sendo escravas sexuais dos ricos.

As incertezas nunca extinguiram o entusiasmo humano por esperanças.

“Eu serei escolhida para o próximo leilão!” Ava sussurrou para mim na noite passada, tentando conter a excitação na voz, “E a aristocracia vai participar desta vez! Já tenho um plano para uma nova vida, Val!”

“Como você sabe disso?” Eu disse preocupada, “eles nunca anunciam isso com antecedência.”

“Os guardas estavam discutindo. Dawson me contou.” Ava piscou os olhos.

“Ava…”

“Por favor, Val.” Ava mudou a expressão e interrompeu com um sorriso amargo, “não…”

A única coisa que Ava mantinha em segredo de mim era o relacionamento entre ela e Dawson. Alguns escravos diziam que Ava já era escrava sexual de Dawson e por isso sempre estava livre de punições físicas. Quando ouvi isso, foi a primeira vez que comecei uma briga com outros escravos e, claro, fui chicoteada por isso.

Depois de um longo silêncio, Ava se animou e continuou com um tom feliz, “Eu era a única garota que já tinha 18 anos nesta cela, Val. Então eu tenho que ser selecionada! Dawson não pode me prender aqui para sempre e eu suponho que ele tem alguma piedade por mim, afinal.”

Era muito ingênuo considerar aquele idiota um homem piedoso, mas Ava não queria ouvir.

“Essa é a melhor vida que posso esperar, Val. Confie em mim e por favor, me encontre na Terra Perdida!” Ava sorriu amplamente como se já estivesse naquele lugar dos sonhos.

“Vou sentir sua falta, Val.” Essa foi a última frase que Ava me disse antes de eu ser tirada da cela para esta jornada.

Então tudo saiu completamente do esperado. Se eu fui a escolhida, o que aconteceu com Ava? Ela sabia o que aconteceu? Foi um erro ou Dawson, o cretino, a enganou?

Corri até a porta e a socava em pânico, gritando ansiosamente, “Olá?! Tem alguém aí? Deve ser um engano! Eu não poderia ser a escolhida!”

“Olá?!”

Mas ninguém me respondeu.

Seja um erro ou um truque planejado, para mim, parecia ser mais uma zombaria amarga do destino depois do ataque de cinco anos atrás.

Naquela noite, há cinco anos, quando eu estava prestes a apagar a vela acesa, eles invadiram sem qualquer aviso. Seus rostos horríveis foram iluminados pela luz fraca da vela. Os rostos dos monstros, que eu nunca esqueceria, estavam manchados com o sangue da minha família.

Naquela noite, eu estava comemorando meu 13º aniversário com meus amados pais e minha irmã. E amanhã, eu completaria 18 anos.

Voltei lentamente para o lugar onde fui trazida, sentei-me na cadeira e olhei para o espelho na penteadeira. Demorou alguns segundos para eu perceber que a imagem no espelho era realmente o reflexo do meu rosto. Parecia tão diferente do que eu lembrava. Eu costumava ter um rosto rechonchudo com uma pequena covinha na bochecha direita. Eu não gostava, mas meus pais sempre achavam fofo. Mas agora, eu estava muito magra e a covinha mal era reconhecível.

Havia alguns produtos de maquiagem na mesa, mas eu não tinha intenção de usá-los. Apenas sentei ali, olhando para meu reflexo e deixando as velhas memórias dominarem meus pensamentos.

E foi por isso que não percebi quando alguém entrou no quarto.

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Mamãe e papai estavam muito ocupados quando eu tinha cerca de sete anos. Eles estavam procurando uma babá para cuidar de minha irmã mais velha, Mathilda, e de mim naquela época. Mamãe achava que sua amiga, a Sra. Johnson, seria uma boa escolha, enquanto papai se opunha fortemente. Eles tiveram uma discussão acalorada sobre isso. Aconteceu quando eu estava jogando beisebol no quintal com Mathilda.

À medida que suas vozes aumentavam perto da porta da sala, Mathilda e eu paramos de jogar e começamos a escutar a conversa deles. Foi a única vez que ouvimos papai gritar com mamãe, “Você perdeu a cabeça, Anne?! Ela não é humana!”

“E daí? Ela é nossa amiga e você se lembra do verão que passamos juntos? A Val gostava dela!”

“Isso é diferente!”

“Qual é a diferença, Winston? Você sempre foi teimosamente conservador. O tratado de paz ainda está em vigor e não há nada com que se preocupar.”

“Esse é o ponto, Anne! Lembra quem costumávamos ser? As coisas que fizemos seriam descobertas se nos aproximássemos demais dos lobos. Quem se importaria com o tratado se descobrissem a verdade?”

“Não é o que queremos, Winston. Você não pode—”

Mas papai parecia ter perdido a paciência, ele de repente interrompeu a frase, “Eu nunca entregaria meu filho a um lobo!”

Então vi papai sair pela porta com uma expressão irritada. Foi só quando ele me viu que seu sorriso finalmente voltou.

Eles acabaram encontrando uma babá humana para nós, de quem não gostávamos nem um pouco. Nunca nos foi permitido chamá-la pelo primeiro nome, apenas de Srta. Stone. Ela era uma mulher velha com um rosto severo onde os sulcos nasolabiais acima dos lábios se curvavam profundamente na pele. Ela sempre parecia estar mal-humorada e rabugenta, gritando sem parar com sua voz rouca.

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Agora, quando finalmente vi o 'intruso', vi a Srta. Stone. Fiquei assustada quando ela apareceu de repente, fazendo um anúncio rouco, “o leilão começará em 20 minutos.”

Quando me virei para olhá-la, ela franziu a testa e apertou os lábios.

“Você já deveria estar pronta.” Ela estava impaciente.

Hesitei antes de dizer timidamente, “Acho que é um engano. Outra garota chamada Ava deveria ser a escolhida.”

Ela me olhou com desdém e zombou, “Erros são coisas estúpidas que os humanos cometem. Lobisomens não.”

Então ela cambaleou em minha direção. A princípio, pensei que ela era muito velha para andar com firmeza, mas quando a observei de perto, percebi que ela era muito mais jovem do que eu imaginava. E o cambalear era por causa de sua deficiência.

Ela bufou quando percebeu que meu olhar caiu em sua perna aleijada.

“Há um banheiro à esquerda. Vá se lavar em cinco minutos.” Ela apontou para uma porta no canto que eu não tinha notado.

A decoração do banheiro parecia menos luxuosa do que a do lado de fora. Ajustei o botão para deixar mais água quente fluir, deixando-a escorrer sobre meu corpo. Uma sensação de calor há muito perdida me envolveu. Eu queria poder parar o tempo para manter esse momento para sempre.

Não nos era permitido nos lavar na cela, a menos que os guardas quisessem se livrar do nosso cheiro. E nunca tínhamos água quente.

Quando terminei o banho e saí com um roupão, ela estava me esperando na penteadeira. Ela parecia surpresa quando viu meu rosto limpo, mas rapidamente desviou o olhar.

“Venha aqui. Vamos cobrir seu hematoma.” Ela disse rapidamente.

Eu obedeci à sua ordem e caminhei até lá, mas então fiquei perdida. Eu não sabia o que fazer.

Ela levantou as sobrancelhas e me encarou por alguns segundos antes de pegar um pequeno frasco.

“Há quanto tempo você está aqui?” Ela perguntou.

Fiquei surpresa por receber uma pergunta dessas.

“…cinco anos.”

“Isso é bastante tempo.” Ela murmurou, “Não é de se admirar que você aja como uma louca.”

A voz dela parecia suavizada, embora o comentário ainda soasse duro.

Ela me instruiu a estender os braços e aplicou um pouco de pó leve neles, que depois descobri ser base, nos meus pulsos. Com seus movimentos, pude ver as cicatrizes profundas em ambos os braços dela. E fiquei surpresa ao descobrir que o dedo indicador da mão esquerda dela estava faltando.

Nem mesmo os escravos seriam feridos tão gravemente assim.

“Está se perguntando onde consegui isso?” Ela perguntou e me olhou de relance.

Eu assenti com um pouco de constrangimento.

“Não é algo que vocês, garotas, gostariam de saber.” Ela disse antes que nossa conversa caísse em completo silêncio.

Uma vez que a base cobriu totalmente meu hematoma, ela olhou para o relógio e me mandou segui-la.

Uma venda grossa foi novamente colocada sobre meus olhos.

“Qual é o seu nome?” Ela perguntou de forma simples antes de abrir a porta.

Eu me perguntei por que ela estava curiosa sobre isso.

“Valerie Davis.” Eu disse.

Então, após um minuto de silêncio, ela de repente explodiu em uma grande gargalhada. E não soou nada agradável. Ela riu de uma maneira horrível e cruel, como um imperador implacável faria ao decidir sentenciar alguém que odiava à morte.

“Essas cicatrizes devem ser crédito à sua família.” Ela parou de rir e disse com um tom neutro, “e agora é a sua vez de sofrer.”

Eu não tinha conseguido digerir a informação antes da picada no meu pescoço. Então meu corpo caiu inconscientemente e minha mente se perdeu na escuridão novamente.