Capítulo 2

CAPÍTULO 2: O Dante Valentino

~ Eve Moretti

O sol brilhava através das cortinas, lançando uma luz suave no pequeno quarto que eu chamava de meu. Não era nada espetacular, uma cama, uma cômoda e prateleiras, mas era mais do que eu tinha quando acordei sem memória e com um nome que não ressoava. Eu nem reconhecia meu próprio rosto.

Tudo o que eu sabia era que ia morrer e fui salva por uma boa samaritana que cuidou de mim até eu melhorar. Tenho flashbacks de estar em um carro, machucada e sangrando, sendo empurrada para fora do carro de forma impiedosa. Fui deixada para morrer. Não sabia por que ou quem me matou. Estou viva agora, esperando lembrar do meu passado.

Eve Moretti.

Esse é quem eu sou agora. A mulher que me resgatou foi gentil o suficiente para me deixar usar seu sobrenome.

A mulher que me salvou, Lina Moretti, sempre dizia: "Você recebeu uma segunda chance," ela disse na primeira manhã em que acordei sob seus cuidados. "Então você precisa de um novo nome. Algo bonito. Como Eve."

Eu não lutei. Não podia. Não sabia quem eu era, de onde vim. Meu corpo trazia as marcas de algo violento, algo cruel. Mas minha mente era um espaço vazio. Sem família. Sem passado. Sem memórias. Apenas pesadelos que às vezes me acordavam suando frio.

Encontrei Lina na cozinha depois de um banho rápido. Ela estava cantarolando uma melodia, virando panquecas, o cheiro de baunilha e manteiga era familiar, preenchia a cozinha. Acho que nunca me acostumaria com isso, era como a primeira vez todas as vezes. Seu sorriso era maternal e caloroso. Devo minha vida a ela.

"Você vai se atrasar," ela disse, me dando um prato.

"Tenho tempo." Dei uma mordida, saboreando o gosto. Ela sempre cozinhava como se fosse a única coisa boa que restava no mundo.

"Vou cortar seu cabelo quando você voltar. Não podemos deixar crescer, certo?" Lina disse, sorrindo.

Eu assenti. Lina tinha me ajudado a cortar meu cabelo longo, deixando-o curto depois que me senti melhor. Isso transformou minha aparência, diferente de quando eu tinha acabado de acordar. Meus assassinos, se estivessem me procurando, não seriam capazes de me reconhecer.

Ao meio-dia, eu estava com minhas roupas de trabalho habituais—calças pretas, camisa social e sapatos baixos. Nada extravagante. O suficiente para passar como garçonete em um bar no centro da cidade que recebia sua cota de bêbados, turistas e homens ricos com muito tempo livre. Eu sempre trabalhava nas tardes no bar.

Mas hoje era diferente.

No momento em que entrei no bar, o ar estava elétrico. Os funcionários estavam um pouco mais eretos, se moviam um pouco mais rápido. O gerente, Marco, estava andando de um lado para o outro perto da porta, com o rosto já suado.

Ele bateu palmas, chamando todos ao redor. "Ouçam, pessoal! Nada de erros hoje. Temos uma visita muito importante chegando em breve. Não importa o que ele mandar vocês fazerem—vocês fazem. Sem perguntas, sem atitude. Entendido?"

Houve murmúrios.

"Quem é?" alguém reclamou ao meu lado.

Marco não respondeu. Apenas passou a mão no rosto e saiu.

Voltamos para nossos postos. Eu estava atrás do bar, polindo copos, quando a porta se abriu e a temperatura pareceu cair dez graus. O som das botas, lento e autoritário, veio em seguida. Me virei pela metade para vê-lo entrar.

Dante Valentino.

O homem ao meu lado sussurrou seu nome como se representasse algo—e representava. Até eu, senti a importância que seu nome carregava.

Temido. Poderoso. Intocável. O próprio nome era suficiente para silenciar uma sala.

Dante era imponente, vestido com um terno preto impecavelmente ajustado que abraçava sua estrutura muscular como uma segunda pele. Seu cabelo escuro estava penteado para trás, não havia um fio fora do lugar. Mandíbula e maçãs do rosto esculpidas, lábios torcidos em um leve sorriso como se soubesse que o mundo rastejava aos seus pés. Seus olhos—cinza gelo—varreram a sala, calculando. Perigoso.

Ele passou por mim, e nossos olhos se encontraram brevemente.

Um choque? Medo? Algo indescritível aconteceu comigo.

Virei o rosto rapidamente, meu coração acelerado dentro de mim.

Achei que ele tinha ido embora quando me virei.

Mas ele não tinha.

Ele estava parado bem na minha frente. Ele deve ter me pegado encarando-o intensamente.

Inalei bruscamente, quase dando um passo para trás e caindo. Seu sorriso aumentou ligeiramente, então ele se virou para Marco.

"Faça com que ela me sirva."

Marco não hesitou. "Sim, senhor."

Todos os olhos se voltaram para mim com choque e uma espécie de simpatia secreta. Alguns murmuraram palavras de aviso enquanto eu me preparava e fazia o que me foi instruído.

"Tome cuidado," sussurrou um dos garçons. "Apenas faça o que ele quer."

Eu não tinha certeza do que eles queriam dizer exatamente, mas algo dentro de mim não concordaria com isso. Eu era uma garçonete. Não um animal de estimação. Não um brinquedo. Eu devia ter sido desafiadora no passado.

Levei a bandeja de bebidas para o lounge privado onde ele esperava.

Seus guardas estavam parados como estátuas ao longo das paredes. Um homem sentado ao lado dele segurava alguns papéis, suando como se a sala não estivesse fria por causa do ar-condicionado. Eu tinha acabado de entrar quando ele levantou a mão. "Todos para fora."

Os guardas e o homem suado saíram sem hesitação, deixando apenas nós dois.

Havia silêncio entre nós enquanto eu caminhava até a mesa, minhas mãos preparando uma bebida para ele com precisão. Minha mão tremia e eu a obriguei a ficar firme.

"Qual é o seu nome?" ele perguntou, sua voz baixa e com um toque de interesse.

"Hã?" Respondi, surpresa por ele me dirigir a palavra.

"Nome." Ele encurtou.

"Eve," respondi simplesmente.

Ele repetiu, mais para si mesmo do que para mim. "Eve."

Eu não conseguia me mexer até que ele estendeu a mão, segurando meu pulso, me impedindo de servir a bebida. Minha respiração ficou presa na garganta.

Ele usou a outra mão para levantar meu queixo, me estudando com olhos estreitos, como se estivesse tentando descobrir uma verdade sob minha pele.

Havia algo na maneira como ele me olhava que era… invasivo. Como se ele pudesse ver através de mim. A mão dele na minha pele parecia elétrica. Eu deveria estar assustada, mas eu gostei.

Dei um passo para trás, limpando a garganta e tentando criar alguma distância entre nós. "Há mais alguma coisa que eu possa trazer para o senhor?"

"Sim," ele respondeu. "Trabalhe para mim."

Eu pisquei. "Desculpe?"

"Você me ouviu," ele disse.

Eu balancei a cabeça. "Não estou interessada."

Ele não se mexeu. Ele pegou o pequeno dispositivo na mesa e apertou um botão. Marco apareceu segundos depois, ofegante.

"Ela vai comigo," Dante disse como se fosse uma prática comum. Ele passa pelo bar e simplesmente leva alguém com ele.

O rosto de Marco empalideceu. Ele se virou para mim, implorando silenciosamente, então se aproximou para sussurrar, "Você não entende, Eve. Se você disser não, esta instalação pode ser fechada. Ele tem esse tipo de poder, Eve. Por favor. Pense no resto de nós."

Minha garganta secou e meus punhos se cerraram.

Eu odiava ser encurralada.

Mas eu não estava apenas cuidando de mim agora. Eu estava cuidando de Lina. Marco. Todos eles aqui. Seus meios de vida dependiam de mim.

Forcei um aceno de cabeça. Não perguntei que tipo de trabalho eu faria para ele, mas sabia que não permitiria ser usada. "Tudo bem. Vou trabalhar com você."

Dante se levantou, um brilho satisfeito nos olhos. "Boa escolha, Eve. Você será bem recompensada."

Boa?

Não parecia boa.

Era o começo de algo que eu não conseguia compreender.

E talvez, apenas talvez, algo do qual eu não sobreviveria.

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