Conhecendo a tripulação

Seus olhos frios e implacáveis se fixaram nos meus, e eu senti o peso deles pressionando enquanto a mão do Capitão Blackthorn apertava meu pulso. Eu não tinha escolha senão segui-lo enquanto ele me conduzia pelo corredor estreito e mal iluminado do navio. O ar estava pesado com o sal do mar e o cheiro de madeira desgastada. Cada rangido do navio sob meus pés descalços me lembrava de quão precária minha situação havia se tornado. Eu tropeçava para acompanhar seus passos longos e deliberados, meus dedos escorregando contra as tábuas desgastadas, o movimento do navio enviando ondas de instabilidade através de mim.

Emergimos no convés, e o sol da manhã começou a penetrar através da névoa espessa que teimosamente se agarrava à Serpente Negra. A tripulação havia interrompido suas tarefas, virando-se para observar nossa chegada. Seus olhares variavam de curiosidade a algo mais afiado, uma ponta de suspeita ou diversão em seus olhos. Engoli em seco, sentindo-me exposta sob seu escrutínio, minhas mãos ainda formigando pelo efeito persistente do aperto de Blackthorn. O Capitão Blackthorn me puxou para o centro do convés, sob o mastro imponente que se estendia para o céu como um sentinela sombrio. Ele soltou meu pulso com um empurrão que quase me fez cair. Me recompus, forçando meu corpo a ficar ereto, levantando o queixo o melhor que podia para manter alguma aparência de dignidade.

“Ouçam todos vocês!” Sua voz retumbou, comandando atenção imediata. A tripulação se endireitou, alguns enrijecendo na súbita autoridade que irradiava dele.

“Esta é Isabella, minha nova esposa. Ela vai se juntar à nossa humilde tripulação. É melhor tratá-la com o mesmo respeito que me dão. Qualquer homem ou mulher que sequer olhe para ela de maneira errada terá que responder a mim.”

Um murmúrio passou pela tripulação. Eu examinei seus rostos rapidamente, tentando antecipar quem poderia ser um amigo e quem poderia ser uma ameaça. O homem alto e marcado com um olho faltando sorriu para mim, um brilho inescrutável em seu olhar. Uma jovem mulher com cabelos vermelhos como fogo fez um breve aceno simpático, oferecendo um pequeno conforto em uma situação de outra forma assustadora.

“Esta é a Serpente Negra, menina. Estes são seus companheiros de tripulação. Você vai trabalhar, ganhar seu sustento, e talvez, se for esperta e cautelosa, sobreviverá para ver outro dia. Entendeu?”

Minha mente corria para processar tudo. Apenas dias atrás, eu era uma princesa, envolta em conforto e proteção. Agora, eu estava no mar aberto, uma prisioneira no mundo de um pirata, à mercê de um homem cuja crueldade era lendária.

“Voltem ao trabalho!”

Seu comando fez a tripulação se dispersar de volta às suas tarefas, alguns lançando olhares prolongados para mim. A realidade da minha situação se assentou mais pesada em meu peito. Uma mulher robusta com um rosto marcado pelo sol se aproximou, sua expressão severa, mas não indelicada.

“Venha, então,” ela disse, sua voz áspera, mas firme. “Vamos te arrumar. Meu nome é Maeve. Fique perto de mim até pegar o jeito do mar.”

“Obrigada,” murmurei, alívio misturando-se ao meu medo.

“Você sabe usar um esfregão e um balde?” ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

“Acho que vou ter que saber.”

“Esse é o espírito. Venha, vou te mostrar o que precisa ser feito. Mantenha a cabeça baixa e os sentidos aguçados. O Capitão Blackthorn pode ser exigente, mas é a tripulação que você precisa observar.”

Eu a segui pelo convés, a névoa agora se levantando enquanto o sol queimava, iluminando cada tábua desgastada, rolo de corda e peça de metal brilhante no navio. A Serpente Negra fervilhava de atividade; marinheiros puxavam cordas, ajustavam velas e inspecionavam o cordame. Cada movimento carregava propósito, um ritmo de eficiência que parecia tanto estranho quanto hipnotizante. Maeve me guiou para uma seção do convés perto do mastro principal. Ela me entregou um esfregão e um balde, mostrando os movimentos com paciência silenciosa. A esfregação repetitiva logo se tornou quase meditativa, permitindo-me focar e observar. A tripulação se movia ao nosso redor, cada pessoa absorvida em suas tarefas. O homem alto e marcado enrolava cordas com um olho sempre em mim. A mulher de cabelos vermelhos remendava velas, dedos ágeis movendo-se rapidamente e decisivamente. Cada centímetro da Serpente Negra carregava as marcas de inúmeras viagens, um testemunho da resistência e habilidade de sua tripulação.

“Você está indo bem, Isabella,” disse Maeve, sua voz baixa, mas encorajadora. “Continue assim. Ainda faremos de você uma marinheira.”

“Obrigada.”

O sol da manhã subia mais alto, e o suor escorria pela minha testa enquanto eu trabalhava. O ritmo de esfregar e a concentração que exigia mantinham minha mente longe do medo.

Então, um grito agudo vindo do ninho da gávea rompeu os sons constantes do trabalho.

“Navio no horizonte!”

O convés congelou enquanto todos os olhos se voltaram para o som. Um murmúrio de excitação e apreensão passou pela tripulação. O Capitão Blackthorn caminhou até a borda do convés, os olhos semicerrados enquanto examinava o horizonte.

“Preparem-se para a ação! Todos a postos! Carreguem os canhões!” Sua voz soou sobre o caos, precisa e firme.

A tripulação entrou em ação, respondendo ao comando com a eficiência prática de piratas experientes. Eu segurei o cabo do esfregão, sem saber onde ficar ou o que fazer. Maeve me puxou para o lado, abaixando-se perto do mastro principal.

“Fique perto, Isabella,” ela instruiu. “É agora que você mantém a cabeça baixa. As coisas podem ficar difíceis.”

Eu assenti, o coração batendo forte no peito. O navio que se aproximava crescia, suas velas esticadas ao vento. Era um navio mercante, menor que o Black Serpent, e sua tripulação parecia ansiosa, talvez percebendo tarde demais que haviam entrado em águas perigosas.

“Calma! Esperem pelo meu sinal!” Blackthorn gritou.

Os navios se aproximaram. A pólvora foi preparada, e as balas de canhão colocadas com cuidado meticuloso. O ar carregava o cheiro do mar misturado com o sabor da tensão. Eu segurei o cabo do esfregão com força, os nós dos dedos brancos. O momento se estendeu, a distância entre os navios diminuindo a cada batida do coração.

“Fogo!”

Os canhões trovejaram, o recuo sacudindo o convés sob meus pés. Fumaça e o cheiro acre de pólvora encheram o ar, obscurecendo visão e olfato. A tripulação do Black Serpent se movia com precisão, abordando o navio mercante com ganchos e comandos gritados. Eu me abaixei atrás do mastro, o coração na garganta, todos os sentidos alertas. Os sons da batalha chegavam em ondas: ordens gritadas, o choque de metal, e os gritos de homens e mulheres presos no caos.

O Capitão Blackthorn se movia pela confusão como uma sombra feita de aço e autoridade, sua presença comandando todos os olhos, todas as ações. Ele era uma força da natureza, inflexível e imparável, cortando a hesitação e o medo. O confronto terminou rapidamente. A tripulação mercante, superada e desarmada, se rendeu, suas armas caindo no convés. O peito do Capitão Blackthorn subia e descia com o esforço enquanto ele examinava a cena, procurando qualquer sinal de resistência restante.

“Prendam os prisioneiros! Recuperem a carga! Cuidem dos feridos!” Sua voz ecoou pelo convés, implacável em sua autoridade.

Maeve veio até mim.

“Acabou, por enquanto,” ela disse, ajudando-me a levantar. “Vamos, ver se podemos ser úteis.”

Eu a segui até o navio mercante, a realidade da minha nova vida se assentando como um peso no meu peito. Violência, sobrevivência e adaptação eram agora as regras. Se eu quisesse sobreviver, precisaria ser forte, engenhosa e vigilante. Nos movemos entre a tripulação capturada, oferecendo assistência onde podíamos. Eu avistei o Capitão Blackthorn do outro lado do convés. Nossos olhos se encontraram brevemente, e por um instante, pensei ter visto algo, um lampejo de aprovação, talvez até respeito. Desapareceu rapidamente, substituído por seu habitual comportamento calculista e frio. Uma única lição ecoou na minha mente: neste navio, nada era dado de graça, e nada era garantido.

O sol subia mais alto, iluminando o Black Serpent em toda sua glória intimidadora. A tripulação retomou seu ritmo, preparando o navio para a próxima etapa da jornada. Maeve ficou perto, uma presença constante enquanto eu navegava pelo convés, aprendendo as cordas, tanto literalmente quanto figurativamente. Eu entendi agora que minha sobrevivência dependia de observação, pensamento rápido e discrição. Cada olhar, cada palavra, cada ação importava. Talvez, com o tempo, eu encontrasse uma maneira de sobreviver a esta vida no Black Serpent, de encontrar um lugar para mim entre sua tripulação imprevisível e perigosa.

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