Capítulo 3

O coração de Cecília se acalmou ao reconhecer a foto de Mia na tela do celular. Ela respirou fundo e atendeu, reunindo todas as suas emoções descontroladas e trancando-as.

Cecília forçou um sorriso, esperando que ele transparecesse em sua voz. "Oi, Mia."

"Cece!" A empolgação de Mia explodiu pelos alto-falantes. "Me conta tudo. É realmente tão grande quanto dizem?"

Cecília corou ao pensar na ferramenta considerável que sentira dentro dela na noite anterior. Será que Mia descobriu de alguma forma? "O-o quê?" Cecília perguntou.

"A mansão!" Mia exclamou. "Ouvi dizer que é tão grande que você não consegue ver um lado do quarto do outro."

"Ah," Cecília respondeu, deixando escapar uma pequena risada. Graças a Deus. "Não, não é tão grande assim."

"Quantos andares tem?" Mia perguntou. "Quantos quartos? Os inquilinos são bonitos ou o quê?"

Cecília sentiu seu lábio tremer. Mordeu-o para não chorar. Queria tanto confiar em Mia, mas manteve sua melhor amiga nas sombras por anos e não iria iluminar seu segredo mais sombrio agora. Até onde Mia sabia, ela ainda era uma Beta.

Ela poderia muito bem ter perdido tudo nas últimas vinte e quatro horas. Não podia perder Mia também.

"Eu não sei sobre isso, Mia," Cecília respondeu. "Eu—eu estou cansada e…."

"Ah." Mia parecia um pouco desanimada, mas não demorou muito para que sua voz voltasse a brilhar de alegria. "Bem, pessoas ricas provavelmente têm muitos hábitos estranhos, de qualquer forma. Talvez você devesse desistir de tudo isso."

Cecília sentou-se na beirada da cama, mas pulou novamente ao lembrar das coisas terríveis que aconteceram naqueles lençóis na noite anterior.

"Ce. Vamos descobrir algo. Sempre há a administração—era o que você queria desde o início, certo?"

As palavras de Mia trouxeram conforto, mas Cecília não conseguia afastar os sentimentos nublados que a atormentavam. Ela se despiu e tomou um banho enquanto Mia falava sobre algumas vagas que estavam abrindo na cidade. Quando se despediram, o banheiro estava tão cheio de vapor que Cecília não conseguia mais se ver no espelho.

Ela não sentia muita vontade de se olhar no rosto, de qualquer forma.

Ela lavou as memórias da noite anterior e se vestiu com as roupas de reserva que trouxera, amaldiçoando-se por escolher uma saia em vez de calças quando já se sentia tão exposta. Quando terminou, Cecília abriu sua caixa de inibidores para tomar sua dose diária—então um pensamento lhe ocorreu. Ela pegou uma segunda seringa do lote e injetou o dobro da dose. Nunca havia dobrado a dose de inibidores antes—em parte porque Cecília sabia do risco. Usar inibidores a longo prazo já era perigoso o suficiente, e ela tinha certeza de que seu corpo já estava danificado após anos de uso. Dobrar a dose poderia ter efeitos adversos terríveis, mas isso era uma emergência.

Ela não podia permitir que um Alfa a dominasse novamente.

Ela afastou a sensação de náusea que começara a crescer desde a injeção e saiu do quarto para caminhar pelos corredores intimidantes da mansão. Encontrou dificuldade em se mover com seus saltos altos, a dose extra a lavando com uma vertigem que a fazia se apoiar na parede a cada poucos segundos para se equilibrar.

Respira fundo, ela disse a si mesma, e continuou andando.

O escritório da administração ficava a dez minutos a pé—uma grande torre no centro da agitação da cidade. Cecília entrou, procurando pelo primeiro andar até encontrar a placa com a palavra ESCRITÓRIO ao lado de uma porta envidraçada. Lá dentro, ela ouviu a voz leve e melodiosa da secretária.

"Sim, chefe. Eu entendo o que você quer dizer."

Cecília respirou fundo e empurrou a porta suavemente.

A secretária estava sentada à sua mesa, olhando para Cecília com um par de olhos grandes e sorridentes. Cecília a reconheceu do dia em que assinou o contrato de trabalho. "É bom vê-la novamente!" ela disse. "O que posso fazer por você?"

Cecília se sentou na cadeira em frente à mesa, fazendo uma careta com a leve dor entre as pernas. "Eu—ah, bem. Eu preciso retirar minha candidatura para o trabalho."

A secretária lhe deu um sorriso apertado e alcançou uma gaveta em sua mesa. Ela produziu uma pequena pilha de papéis, presos no canto superior, e os entregou. "Veja aqui? Você já assinou para os primeiros três meses. Você pode desistir, mas será considerado uma quebra de contrato."

A náusea de Cecília de repente dobrou. Ela pegou o contrato, folheando as páginas, um calor formigante crescendo em seu rosto. Não, não, não, não. Por que ela não leu mais atentamente antes de assinar? Será que ela estava realmente tão seduzida pela ideia de dinheiro que assinou cegamente um acordo fechado?

Isso não podia ser verdade. Mia estava lá quando ela assinou pela primeira vez. Ela disse que o contrato foi redigido pelo gerente do próprio escritório de advocacia dela. Ela prometeu que não haveria nada com que se preocupar.

Mia não mentiria para mim... talvez eles tenham mudado o acordo sem que percebêssemos.

A secretária estendeu a mão sobre a mesa para tocar a mão de Cecília, ainda parecendo tão gentil como sempre, e falando com a mesma doçura. "Senhorita Cecília, romper seu contrato significaria que teríamos que levá-la ao tribunal. Você não quer isso, quer?"

Mais uma vez, as lágrimas ameaçavam os olhos de Cecília. Ela as engoliu e saiu do escritório, correndo para fora no clima cinza e ventoso. Os carros passavam apressados, espirrando poças na calçada. As nuvens começaram a cuspir pequenas gotas de chuva sobre a terra. Cecília não se importava com a chuva ou com o que ela poderia fazer com seu cabelo, sua maquiagem, sua roupa. Cansada de tropeçar nos saltos, ela os tirou e os carregou nos dedos, a náusea e a tontura enchendo seu estômago vazio com algo estragado.

Você não nos avisou com antecedência que era uma Ômega, a secretária havia dito. Podemos perdoá-la por isso, desde que você cumpra sua promessa de fazer este trabalho e fazê-lo de forma eficiente. Afinal, você não encontrará um emprego melhor do que este sendo uma Ômega.

Seu coração afundou como uma pedra em seu peito. A secretária estava certa. Ela nunca encontraria uma maneira de se sustentar financeiramente em outro lugar.

Enquanto voltava para a mansão, ela se deparou com a visão de uma Ômega na calçada. Ela estava de joelhos, segurando um Alfa que passava. Seu rosto estava vermelho, seu peito arfando... certamente ela estava no cio. Ela agarrava a camisa do Alfa, implorando para que ele a levasse.

O Alfa, parecendo ofendido com o simples toque dela, empurrou a garota para o chão e seguiu seu caminho. Cecília correu para o lado dela, segurando-a pelo cotovelo arranhado e sangrando. "Deixe-me ajudar você," ela disse, mas a Ômega a empurrou.

"Me deixe!" ela rosnou, seu cabelo uma bagunça sobre o rosto. Então ela avistou outro Alfa passando e prontamente o seguiu.

A visão atingiu Cecília como uma lança no coração. Ela não podia permitir que se tornasse aquilo.

Uma Ômega solitária e no cio, implorando por sexo na rua.

Ela manteve a cabeça baixa enquanto voltava para a mansão.

O clima frio provocava arrepios em sua pele. Felizmente, ninguém a abordou enquanto ela entrava no prédio e voltava para seu quarto. Os lençóis em sua cama haviam sido trocados, e exausta e aliviada com a visão, ela se jogou neles. Rapidamente, foi levada pelo sono—com a imagem de sua mãe, voltando para casa após um dia difícil de trabalho. Tirando os sapatos na porta e desabando no sofá, seu cabelo caído do coque. Por mais cansada que estivesse, ainda conseguia sorrir quando via Cecília.

"Venha, querida. Me dê um abraço," ela dizia, engolindo Cecília em seus braços.

Ela valorizava a sensação do abraço de Mamãe. O calor e o cheiro dela. O som de sua risada suave e borbulhante. Cecília ansiava por isso, e embora soubesse que era apenas um sonho, ela permaneceu ali nos braços de sua mãe. De repente, tudo se tornou mais vívido. Houve uma campainha na porta da frente. Mamãe se levantou e mandou Cecília sair da sala. "Vá, Cecília. Alguém está aqui."

Cecília odiava a hora de se esconder, mas saiu da sala de estar como sua mãe exigiu e se esgueirou para dentro de seu quarto no final do corredor. Ela estava familiarizada com esse procedimento e sabia que não deveria sair do quarto até que sua mãe voltasse para bater na porta. Mas desta vez, apesar de tudo o que havia aprendido, Cecília escolheu ficar na porta, espiando para ver quem havia chegado. Ela esperava que fosse o homem que trouxe flores para sua mãe uma vez—ele era o legal. A maioria era tão má.

Quase sempre, os visitantes de Mamãe eram homens. Cecília frequentemente ouvia suas vozes através das frestas da porta ou os via saindo pela janela. Mas hoje, era uma mulher que havia chegado, vestindo um terno elegante e segurando um pedaço de papel.

"Eu sei que está vencido," sua mãe dizia à mulher. "Não posso simplesmente enviar pelo correio na próxima semana?"

A mulher falou tão baixo que Cecília não conseguiu ouvir. O que quer que ela tenha dito, deixou Mamãe chateada.

"Por favor, eu só preciso de mais alguns dias. Eu posso conseguir para você, eu prometo."

A mulher cruzou os braços, pegando Cecília observando do outro lado da sala. Ela se inclinou para dizer algo em particular para sua mãe, então saiu, batendo a porta atrás de si.

No momento em que ela se foi, Mamãe começou a chorar. Cecília assistiu impotente enquanto ela se curvava sobre o balcão da cozinha e soluçava. Ela queria correr até lá, abraçá-la—mas não deveria estar assistindo. Não deveria saber que Mamãe estava chorando.

O som da tristeza dela cresceu e cresceu, mais alto e mais alto, até que de repente, estava gritando em seus ouvidos. Cecília acordou com um sobressalto.

Em algum lugar lá fora, uma buzina de carro estava tocando.

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