III. Anoitecer em Mageaf

As horas pareciam longas e quentes. O sol brilhava sobre eles, criando um calor que quase os fazia esquecer que o inverno estava próximo. Foi apenas a súbita e gelada brisa que sacudiu os ossos de Elva.

Suas mãos ficaram dormentes enquanto segurava o pomo, e suas costas começaram a doer de tanto mantê-las rígidas. Ela podia sentir o calor dele atrás dela, mas se recusava a ceder. Seus ombros tremiam enquanto um choro suave escapava de seus lábios. Ela se sentia desesperadamente sozinha e quebrada.

"Pare de chorar," ele rosnou entre dentes cerrados.

Elva sentiu ele apertar os braços ao redor dela, o cavalo diminuindo o ritmo abaixo dela. Eksel se mexeu, seu corpo tenso enquanto seu olhar alternava entre o horizonte e a linha de árvores que corria ao lado deles.

Ela inalou lentamente, "Eu-"

"Shh," ele rosnou, segurando sua cintura com mãos ágeis, seus dedos cravando em sua pele.

Ela sibilou, segurando a reclamação. O aperto dele era doloroso, mas o pânico dele era suficiente para manter seus lábios selados.

Sten se aproximou deles em seu cavalo, igualando o passo.

"Você sente isso?" Ele se inclinou em direção a Eksel, mas manteve os olhos atentos.

"Mmm," Eksel murmurou.

O som de cascos ecoou à distância e as árvores se moveram antes que um cavaleiro solitário se aproximasse deles. Elva apertou a mandíbula, inalando bruscamente. Ela não sabia quem era aquele homem estranho, mas relaxou aliviada quando Eksel parou o avanço do cavalo e afrouxou as rédeas.

O resto dos homens fez o mesmo e eles cercaram os cavalos de Eksel e Sten, mantendo a atenção ao redor.

O homem no cavalo era magro como um osso, com cabelo loiro sujo. Tinta preta cobria sua testa, fazendo-o parecer assustadoramente inumano.

Elva não gostou da aparência dele, mas não conseguia desviar os olhos. Ela se recusava a mostrar essa vulnerabilidade.

"Kos," Eksel murmurou, afrouxando o aperto na cintura de Elva.

Kos a olhou, ignorando o reconhecimento de Eksel. Elva se mexeu desconfortavelmente e inconscientemente se inclinou para trás no peito de Eksel, claro, ela pensava que ele era Agnar, pois ninguém lhe dissera o contrário.

Kos continuou a encará-la com seus olhos penetrantes, sua pele queimando com a intensidade.

"Kos," a sílaba rígida saiu dos lábios de Eksel em um tom gelado e firme.

O som conseguiu forçar o olhar de Kos para longe de Elva. Ele exalou lentamente enquanto olhava para Eksel antes de inclinar a cabeça em submissão, abaixando o olhar.

"O que você viu?" O cavalo de Sten se mexeu enquanto ele falava.

"A floresta de Bloodhill está cheia de homens de Halfdan."

Elva sentiu Eksel se tencionar, "Eles estão nos esperando?"

Kos assentiu.

"Devemos contornar. Isso vai adicionar dias à nossa jornada, mas não podemos arriscar," Sten olhou para Elva enquanto falava e ela sabia que era a razão pela qual estavam mais fracos.

Eles tinham que protegê-la.

"Vamos para Mageaf," Eksel gritou para que todos os homens pudessem ouvir.

Logo estavam a caminho, empurrando seus cavalos para um ritmo mais rápido. Elva estava tensa a maior parte do tempo, se mexendo para tentar aliviar a dor em seu traseiro.

Ela queria perguntar quem era Halfdan e por que precisavam evitar a floresta. Ela se perguntava por que eles estavam esperando por eles e se deveria estar mais assustada do que já estava. Mas Eksel acelerou o cavalo e o terreno não permitia conversas.

Algumas horas se passaram antes que ela finalmente agarrasse o braço dele, sibilando de dor, "Por favor, podemos fazer uma pausa, eu preciso descer."

"Estamos quase lá," ele rosnou.

"Eu não aguento," ela ofegou, sibilando quando ele aumentou o ritmo.

Seu cóccix doía e suas pernas estavam quase dormentes de ficar na mesma posição por tanto tempo. O sol já começava a se pôr e o frio no ar era cortante, não ajudando em nada sua situação.

O braço dele envolveu sua cintura como ferro e ele a levantou, manobrando seu corpo até que ela se sentasse no colo dele. A posição não era mais confortável, mas a mudança na postura ofereceu algum alívio.

"Estamos quase lá." Ele repetiu as palavras em um rosnado ainda mais irritado e Elva mordeu os lábios, internalizando suas queixas. Ela não queria irritar seu noivo mais do que já tinha.

Quando estava prestes a reclamar novamente, ela avistou as sombras distantes da vila, Mageaf. Ela suspirou de alívio, feliz em ouvir os sons das pessoas e sentir o cheiro de fogueiras e comida sendo preparada.

Eles pararam em um estábulo e Eksel desmontou, virando-se para Sten, que também havia desmontado e se juntado a eles enquanto Eksel amarrava seu cavalo ao poste.

"Você e os homens ficarão no estábulo. Ylva deve estar lá. Eu vou pegar um quarto e vigiar ela," ele acenou com a cabeça em direção a Elva.

Sten assentiu, "Ylva?"

Eksel sorriu de lado, "Está planejando transar com ela?"

Sten sorriu amplamente, "Só se você não estiver."

Eksel desviou o olhar para Elva, que observava a interação com olhos arregalados e bochechas coradas.

Ele balançou a cabeça, "Não. Não esta noite."

O peito de Elva se expandiu em uma dor indesejada. Seu futuro marido estava falando sobre dormir com outra mulher. Ela não estava apegada a ele e ele obviamente se importava muito pouco com ela, mas ainda assim isso a deixava desconfortável.

Sten os deixou e Eksel olhou para ela antes de envolver suas mãos ao redor da cintura dela. Ela se enrijeceu e agarrou os pulsos dele, não esperando o contato repentino.

"Tão pequena," ele sussurrou enquanto a levantava da sela e a colocava no chão.

Ela estremeceu, recebendo as palavras como se fossem um tapa na cara. Ele falava com tanto desdém que ela se perguntava se algum dia encontrariam felicidade no casamento. Elva não queria que ele a visse como pequena. Ou fraca. Ela deveria ser sua esposa. Sua igual. Sua parceira.

"Venha," ele colocou a mão na parte inferior das costas dela, empurrando-a à sua frente enquanto a conduzia até a estalagem ao lado do estábulo.

Elva o deixou guiá-la em silêncio, seus olhos se arregalando ao entrarem. Homens sentavam-se ao redor das mesas com bebidas nas mãos e mulheres seminuas em seus colos.

"Fique perto," Eksel sussurrou em seu ouvido, colocando ambas as mãos na cintura dela e puxando-a contra seu peito.

Eles seguiram até a frente, e Eksel falou com a mulher atrás do balcão. Ela se pressionou contra o lado dele, evitando contato visual com todos os homens ao seu redor.

Eksel entregou algumas moedas à mulher antes de conduzi-la pela porta nos fundos.

"Último à direita!" A mulher gritou por cima da multidão.

Eksel apenas acenou para ela antes de empurrar Elva para o último espaço aberto. Ela observou o local, inalando o cheiro da fogueira que rugia no canto mais distante. A única coisa que separava o espaço dos outros era uma cortina grossa que parava pouco acima do chão sujo.

Privacidade parecia ser um luxo que eles não valorizavam.

Um colchão solitário estava no chão no meio do espaço, com um cobertor fino e cinza jogado por cima. Seu estômago revirou violentamente ao pensar em ter que compartilhá-lo com seu noivo. Ela nunca havia compartilhado sua cama com outra pessoa, muito menos com um homem.

"Eu-" Ela olhou para o colchão desajeitado, apertando os braços ao redor da cintura.

Eksel olhou para ela, alternando o olhar entre ela e a cama antes de franzir a testa, "Não vou dormir com você, pequena. Vou dormir no chão."

Ela franziu a testa, "A noite toda?"

Ele assentiu rigidamente.

Os nervos que reviravam seu estômago pareciam diminuir, mas as borboletas ainda estavam vivas. Ele não dormiria com ela naquela noite, mas um dia dormiria.

O pensamento sozinho era intenso. Sua curiosidade fazia seu cérebro virar uma confusão. Sem a orientação de sua mãe, ela tinha mais perguntas do que conhecimento. Ela não sabia o que esperar, muito menos como se preparar.

Eksel se moveu ao redor dela, tirando suas botas e armas. Ele manteve a espada perto de si e uma faca presa no cós das calças. Sentou-se no chão ao lado da cortina e começou a massagear os músculos do ombro antes de deixar a cabeça pender entre os ombros.

Elva o observava, notando pela primeira vez o cansaço que escurecia seus olhos e pesava seu rosto. Seu peito se enchia de emoções que ela não conseguia identificar. Ela estava com medo e se sentia sozinha, assustada até. Estar presa com um homem que não conhecia era uma coisa aterrorizante. Ainda assim, havia uma parte dela que ansiava por sua atenção, sua aprovação também. Ela lutava contra esse sentimento. Independentemente do fato de que ele estava destinado a ser seu marido, ela não gostava que ele a tivesse tirado de seu pai tão rapidamente. Sem um adeus.

"Você deveria dormir, temos um longo dia pela frente amanhã. E dias ainda mais longos depois disso." Ele levantou a cabeça, erguendo a sobrancelha quando pegou seu olhar. Elva desviou os olhos rapidamente, focando no rugido do fogo antes de se mover para tirar os sapatos.

Ela deixou todo o resto enquanto se enfiava debaixo do cobertor fino.

"Quão longe estamos de Gleneg?" Ela ficou surpresa que sua voz não tivesse falhado ao falar.

Eksel suspirou pesadamente, fazendo-a se arrepender da pergunta. O silêncio seguiu e ela se sentiu envergonhada por ter se deitado de lado para poder observá-lo. Ela esperava que pudessem conversar por um tempo. Eles precisavam se conhecer, ela não queria se casar com um estranho.

Como se tivesse mudado de ideia, ele bufou e finalmente falou, "Cerca de sete dias, dependendo do terreno e do clima."

Elva o observava enquanto ele massageava a pele entre o polegar e a palma da mão. Ele estremeceu, sibilando silenciosamente enquanto pressionava os dedos na pele.

"Você está machucado?"

Eksel virou a cabeça para ela, levantando o lábio em uma carranca. Elva se enrijeceu, sem saber de onde vinha a raiva dele. "Não."

Ele rapidamente colocou as luvas de volta antes de se deitar de costas. Elva inalou lentamente, encontrando coragem dentro de si para fazer a pergunta que realmente queria fazer.

"Quem é Halfdan?"

O peito dele se expandiu com uma grande respiração. O coração de Elva batia forte contra o peito enquanto ela esperava ansiosamente.

"Espero que alguém que você nunca conheça."

Ela franziu a testa, "Por quê? Quem é ele?"

Ele grunhiu, virando-se para o ombro e dando-lhe as costas, "Vá dormir, Elva."

Seus membros tremiam por conta própria, mas ela cedeu. Embora seu corpo estivesse tenso e sua mandíbula cerrada, o cansaço eventualmente tomou conta.

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