IV. Perigos invisíveis

Eksel acordou antes do sol nascer.

Seus músculos doíam, mas isso era normal. Ele franziu a testa enquanto se sentava, esfregando as mãos no rosto antes de olhar para a pequena mulher que ainda dormia profundamente.

Ele observou os ombros dela subirem e descerem a cada respiração e notou um leve tremor em sua figura. Foi só então que percebeu que o fogo havia diminuído para uma brasa suave.

Sem hesitação ou segundo pensamento, ele se aproximou do fogo, colocando lenha nova que o trouxe de volta à vida. O calor era quase doloroso em seu rosto.

Ele não pôde deixar de dar outra olhada nela, observando os traços suaves, mas marcantes de seu rosto. Sua sobrancelha era elegante, mas seu nariz fino era um contraste acentuado.

Ela era mais bonita do que ele jamais imaginou ser possível.

Ele esfregou as palmas das mãos nos olhos até finalmente se convencer a se afastar. Vestiu-se o mais silenciosamente possível antes de sair. O ar naquele quarto começava a sufocá-lo.

Ele rolou os ombros ao sair para o ar fresco lá fora. Havia bêbados perambulando pela estrada, alguns deitados na lama, enquanto outros ainda gemiam alto nas áreas entre as casas.

Mageaf não era exatamente conhecida por sua beleza ou limpeza. Isso nunca incomodou Eksel. Pelo menos não antes.

Ele olhou para o leste, observando o sol começar a surgir no horizonte. Seu calor bonito era um contraste acentuado com o ar que mordia sua pele.

"Vamos partir em breve?"

Sten apareceu ao lado dele, observando o nascer do sol com a mesma concentração.

"Ela precisa comer primeiro."

Sten desviou o olhar para Eksel, "Você já comeu?"

Eksel balançou a cabeça.

"Ela só vai te dar problemas, sabe disso?"

Eksel sabia disso, mas ouvir as palavras de Sten acendeu um fogo raivoso em seu peito e ele se virou abruptamente para ele.

"Você não precisa me dizer isso."

"Eu vejo como você olha para ela."

"Eu não olho para ela de jeito nenhum, Sten."

"E como ela olha para você."

Isso fez Eksel bufar, quase rindo enquanto respondia, "Ela tem medo de mim. E deveria ter."

"Ela não tem, ela está curiosa sobre você. E se você não tomar cuidado, vai acabar cruzando seu irmão."

"Desde quando você se importa com meu irmão?" murmurou Eksel.

"Eu não me importo. Mas você sabe que seu irmão é bem conectado. Se você cruzar com ele, cruza com todos."

A amargura em sua garganta fez Eksel bufar. Não é que ele quisesse ser o irmão que todos amavam, é que ele achava que Agnar não merecia isso. Assim como ele não merecia seu passado.

Tudo isso graças ao pai deles.

A espinha de Eksel estremeceu e ele piscou para Sten, afastando sua mente daquelas memórias profundas e sombrias que ainda assombravam seus sonhos.

Ele se afastou, sem responder ao seu amigo mais velho. Mas Sten o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava assombrado por seus pensamentos.

Entrando no estábulo, ele procurou Ylva, pegando uma tigela de mingau dela antes de voltar para Elva. Ele caminhou até a pousada em silêncio, mordendo o lábio inferior de preocupação. Ao afastar a cortina, foi recebido com um leve suspiro e os olhos castanhos arregalados dela.

"Eu... eu pensei que você tivesse me deixado aqui."

Eksel fez uma careta, observando o medo que rastejava por suas pupilas hipnotizantes.

"E quebrar o acordo?"

Ele empurrou a tigela de comida em direção a ela e ela a pegou hesitante, sem nem mesmo se mover para dar uma mordida. Eksel a observou atentamente, se perguntando por que ela achava que deixá-la ali seria uma opção viável.

"Acho que não," ela sussurrou para si mesma.

Ela deu uma pequena mordida na comida, mal conseguindo engolir a aveia dura. A pequena ruga em sua testa fez Eksel ficar hiperconsciente da beleza em suas expressões. Ele se encostou na parede, cruzando os braços no peito.

"Você tem irmãos?"

A pergunta a pegou de surpresa e suas sobrancelhas se ergueram. Ela só conseguiu balançar a cabeça enquanto dava outra mordida no mingau.

Ele queria saber cada pensamento que ocupava a mente dela. Era perigoso pensar assim e ele sabia que Sten estava certo, mas ela o chamava como uma sereia. Ele não pôde evitar as perguntas curiosas que saíam de seus lábios.

"Você odeia seu pai por ter te dado a um completo estranho?"

Ele viu o jeito que o olho dela tremeu sob seu olhar, mas não conseguiu se arrepender da pergunta.

Sua mandíbula se apertou e ela desviou o olhar dele, seus olhos focando nas chamas do fogo. Ele desistiu de esperar uma resposta enquanto se afastava da parede.

Mas sua voz suave alcançou seus ouvidos, "Sim."

Ele inalou bruscamente, era um sentimento que ele entendia muito bem.

Ele acenou com a cabeça para a tigela nas mãos dela, "Termine, vamos partir em breve."

Ela olhou para a tigela, forçando-se a dar mais algumas mordidas. Eksel a observou, absorvendo as curvas de seu rosto.

As leves sardas que cobriam seu nariz e bochechas eram como estrelas em sua pele. Seus lábios finos, curvados suavemente no arco do cupido, e Eksel não conseguia desviar os olhos. Ele inalou lentamente enquanto observava o jeito que ela lambia os lábios entre cada colherada.

A visão era dolorosamente atraente. Seu peito se expandia a cada respiração profunda que ele tomava para tentar aliviar a coceira que se espalhava por seu corpo. Ele apertou as mãos em punhos antes de se mexer e cruzar os braços no peito.

O silêncio era ensurdecedor e, quando Elva finalmente colocou a tigela de lado, ele se mexeu desconfortavelmente enquanto ela calçava os sapatos. Quando finalmente saíram, ele inalou o ar fresco, agradecido por finalmente ter algo mais em que se concentrar.

Elva suspirou quando ficaram ao lado do cavalo e Eksel sabia que ela temia a ideia de mais um dia de cavalgada.

Ele pressionou os dedos na pele dela enquanto segurava sua cintura e a levantava para a sela. Ela chiou, gemendo baixinho quando suas pernas protestaram contra a posição.

"Você vai se acostumar eventualmente," ele murmurou para ela enquanto se sentava atrás dela.

Ela apenas acenou com a cabeça, mantendo as costas tão rígidas quanto no dia anterior.

Sten se aproximou deles em seu cavalo, acenando um pedido de desculpas para Eksel antes de olhar para Elva.

"Onde está Kos?"

"Ele foi na frente, limpando o caminho," Sten respondeu, virando-se para o sol que ainda subia.

"Mantenha os homens em alerta máximo, não podemos correr o risco de Halfdan nos ver antes de o vermos," Eksel sentiu Elva se tencionar enquanto falava, e ele subconscientemente apertou os braços ao redor da cintura dela.

O jeito que o corpo dela relaxou fez seu peito se expandir com um certo tipo de orgulho. O sentimento era iluminador, embora morresse quando ele pensava em seu irmão.

Ele estalou a língua, conduzindo seu cavalo para longe do estábulo e através da vila. Seus homens o seguiram e logo estavam deixando a vila para trás, cavalgando com o vento em seus cabelos.

Eles cavalgaram por algumas horas, a jornada parecendo não levar a lugar nenhum enquanto contornavam as bordas da Floresta Bloodhill.

A floresta era escura, as árvores tão densas que só podiam ver alguns metros à frente. Embora Eksel não os colocasse na posição perigosa de serem atacados na floresta densa e escura, ele não tinha medo de fazer sua presença conhecida.

Ele sabia que Halfdan estava observando. Confrontá-los não era o problema, ele só não queria ser emboscado.

Kos apareceu diante deles, esperando que o alcançassem. Ele estava em seu cavalo no topo da colina que eles começavam a subir.

Elva estremeceu ao vê-lo, finalmente cedendo e se inclinando contra o peito de Eksel. Ele franziu a testa, sabendo que a reação dela era ao homem em quem ele confiara o suficiente para enviar à frente e garantir sua segurança.

Ele envolveu os braços ao redor dela mais apertado, puxando-a mais fundo em seu peito. Se era conforto que ela procurava, ele não conseguia pensar em nenhuma razão para negar isso a ela. Pelo menos nenhuma razão que importasse. Não com seu corpo macio e quente pressionado contra o dele.

Ela envolveu a mão ao redor de seu pulso, pressionando seus pequenos dedos na pele calejada de suas mãos.

"O que há de errado?" Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido.

Ela se tencionou com a sensação de sua proximidade, inclinando a cabeça para o lado para olhar para ele. Eksel segurou seu olhar mel, seus olhos descendo para os lábios dela por conta própria.

Isso acendeu um calor profundo dentro dele e, deuses, como ele queria se inclinar e capturar aqueles lábios entre seus dentes. Ele engoliu a secura em sua boca, cerrando os dentes até a parte de trás de sua mandíbula começar a doer.

Elva inalou uma respiração trêmula, apertando mais forte suas mãos. Ela hesitou por um momento antes de falar sua preocupação.

"Eu... eu não gosto do jeito que ele olha para mim," sua voz suave quase desapareceu enquanto ela voltava o olhar para o homem que os aguardava.

Eksel desviou o olhar para Kos, estreitando os olhos para estudar a expressão em seu rosto. Os olhos intensos e escuros de Kos estavam franzidos em uma concentração e apontavam para uma pessoa.

Elva.

Isso fez o sangue de Eksel ferver.

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