Capítulo 1

A noite estava encharcada por uma chuva torrencial, a umidade tão densa que era quase sufocante.

Zoey King dobrou seu uniforme cuidadosamente e o enfiou na mochila, olhando para o relógio na parede.

23h47. Ela era a única que restava no necrotério, como de costume.

"Zoey, ainda aqui a essa hora?" O segurança de plantão iluminou-a com sua lanterna ao passar.

"Estou quase saindo." Ela colocou sua máscara, os dedos roçando no bisturi no bolso escondido, o toque frio trazendo-lhe um pouco de conforto.

O beco atrás do necrotério era seu atalho para casa.

Mesmo que o poste de luz estivesse apagado há meio mês, era tranquilo.

Zoey segurava um guarda-chuva preto, seus tênis fazendo suaves respingos nas poças.

De repente, ela parou, virando a cabeça em direção a um certo ponto.

O leve cheiro de sangue misturado com a chuva era quase imperceptível, mas inconfundível.

Logicamente, ela deveria ter dado meia-volta e tomado outro caminho.

Mas Zoey gostava do silêncio e estava acostumada com esse percurso.

Ela abaixou o guarda-chuva para cobrir a maior parte do rosto e continuou em frente.

Quanto mais se aproximava, mais forte o cheiro de sangue ficava.

"Alexander Garcia, você acha que vai sair vivo daqui hoje à noite?" Uma voz masculina rude cortou a chuva.

Um relâmpago iluminou a cena no fundo do beco.

Sete homens de preto, armados com armas afiadas, cercavam um homem encostado na parede.

Apesar de coberto de sangue, o homem permanecia ereto, como uma espada desembainhada.

"Com licença, posso passar?" Zoey perguntou educadamente.

Sua voz repentina fez o líder dos homens de preto se virar bruscamente, semicerrando os olhos para ela. "Procurando encrenca?"

Zoey levantou um pouco a borda do guarda-chuva, revelando seu queixo pequeno e lábios fortemente pressionados. "Só estou passando."

O líder deu um passo à frente, sua voz fria. "Você acha que vou acreditar nisso?"

Eles tinham encurralado Alexander ali para acabar com ele, sabendo que ninguém passaria por aquele caminho.

Ele acenou com a mão, e três homens imediatamente cercaram Zoey.

Zoey franziu a testa, ficando impaciente.

"Querida, vamos fazer isso rápido para você..."

As palavras do homem foram interrompidas quando ele caiu no chão, atordoado.

O guarda-chuva de Zoey se fechou de repente, a alça atingindo um homem e o deixando inconsciente. "Eu disse, só estou passando."

Sua voz era mais fria que a chuva, tingida de uma irritação clara.

Os três homens que a cercavam ficaram chocados, instintivamente recuando, apenas para serem repreendidos pelo líder.

"O que vocês estão com medo? Peguem ela! Ela é só uma garota!"

Eles precisavam terminar isso rapidamente, sem fazer muito barulho, e definitivamente sem deixar Alexander escapar de volta para a Villa Garcia.

No caos, Alexander olhou para Zoey.

Ele não esperava tal poder explosivo de um corpo tão pequeno.

Qualquer que fosse a razão dela estar ali, ela estava ajudando-o, e ele precisava voltar para a Villa Garcia vivo.

Aquele olhar fez Zoey parar por meio segundo.

Aqueles olhos, ela já os tinha visto antes.

Quando ela tinha doze anos, o orfanato pegou fogo, e alguém a empurrou para fora de uma janela através da fumaça.

Sua última lembrança era daqueles olhos, como a estrela mais brilhante da noite.

Parecia que sua intuição estava certa.

Ela tinha inicialmente planejado se virar e ir embora, lembrando do corpo não identificado com o qual ajudou seu professor no mês passado, ainda deitado no necrotério.

Seu professor havia dito que era relacionado a gangues e a aconselhou a se manter afastada dessas coisas no futuro.

Então, quando sentiu o cheiro de sangue, quis sair, mas um instinto inexplicável a fez dar um passo à frente, depois outro.

Até que ficou de frente para Alexander.

"Cuidado!" Alexander avançou de repente, puxando-a de volta à realidade.

Um facão atingiu seu ombro, espalhando um jato de sangue.

O forte cheiro de sangue deu uma dor de cabeça a Zoey.

Quando os homens de preto levantaram suas armas para atacar, ela puxou Alexander para trás de si, seus contra-ataques se tornando ferozes.

O bisturi cortou os pulsos deles, e a coronha de uma arma que ela havia pego quebrou seus narizes.

Alexander, de costas para ela, usou suas habilidades de combate para derrubar dois homens, mas sua visão ficou cada vez mais turva devido aos ferimentos.

Os homens de preto atacaram mais ferozmente, seus movimentos eram mortais, mas não eram páreo para Zoey.

Eles não conseguiam entender como essa garota aparentemente delicada podia ser tão formidável.

Ela poderia ser a guarda-costas de Alexander?

"O que estão esperando? Se eles não morrerem, nós vamos!" o líder dos homens de preto rugiu.

Ao ouvir isso, os homens restantes hesitaram por um momento, depois avançaram furiosos.

Zoey se moveu rapidamente, cada golpe de seu bisturi era preciso e implacável.

Em menos de um minuto, todos os homens de preto estavam no chão, gemendo, incapazes de se levantar.

Ela sacudiu a chuva de seu guarda-chuva, pronta para passar por cima do semi-consciente Alexander e ir embora.

Quando passou por cima dele, sua mão ensanguentada agarrou firmemente a perna de sua calça.

"Solte," Zoey disse friamente.

Alexander não soltou, sua voz rouca. "...Me leve com você."

Zoey olhou para baixo, encontrando um par de olhos lindos, tão familiares que ela apertou os lábios e franziu a testa.

Alexander desmaiou completamente antes que ela pudesse responder.

Ela suspirou, finalmente, e se agachou para erguer Alexander sobre seu ombro, indo para sua base secreta.

Não havia câmeras naquele beco; ela poderia simplesmente tê-lo deixado.

Mas aqueles olhos eram familiares demais, e ela instintivamente o pegou.

Ela havia trabalhado duro para escapar de seu passado e não podia se dar ao luxo de se envolver com a polícia novamente.

Sua base secreta ficava no porão, não muito longe do prédio do laboratório.

Era onde ela dissecava corpos especiais.

Zoey jogou Alexander na mesa de dissecação, a luz forte revelando a ferida aberta em sua omoplata.

Suas roupas ensopadas de sangue estavam no caminho, então ela já as havia rasgado quando o trouxe.

Ela colocou luvas de borracha e selecionou a melhor agulha de sutura da bandeja, administrando anestesia primeiro.

Quando começou a costurar, a agulha perfurando sua carne, os olhos de Alexander se abriram de repente, sua mão prendendo seu pulso.

"Quem te enviou?" Sua voz era fria, seus olhos cheios de intenção assassina.

Zoey estava surpresa que a anestesia não tinha funcionado nele.

Ela tentou se afastar, mas não conseguiu, então o acertou no estômago com o joelho.

Alexander grunhiu, mas seu aperto não afrouxou; em vez disso, ele a puxou para mais perto, seus rostos a centímetros de distância.

Ele sorriu, a respiração pesada de dor. "Você é bem habilidosa. Não é a primeira vez que faz isso, né?"

Zoey estreitou os olhos, sua outra mão de repente puxando um bisturi para o pescoço dele.

"Solta, ou eu vou dissecar um cadáver em vez de costurar um ferimento."

Alexander olhou nos olhos dela acima da máscara, finalmente a soltando para que ela pudesse continuar a costura.

"Você odeia matar, não é? No beco, você teve a chance de matá-los, mas só os nocauteou."

Zoey não respondeu, a agulha perfurando sua carne novamente.

A anestesia realmente não funcionava nele; veias saltavam em sua testa enquanto ele rangia os dentes.

Vinte e sete pontos, levando um total de meia hora.

No final, Alexander estava encharcado de suor, como se tivesse sido tirado da água.

Ele tentou se sentar, apenas para Zoey golpear a parte de trás de seu pescoço, nocauteando-o novamente.

"Você fala demais. É irritante." Zoey o enfiou em um saco de estopa, jogou-o sobre o ombro e o largou na rua.

Quando Alexander acordou, encontrou-se de volta na Villa Garcia.

"Como eu voltei para cá?"

O guarda-costas respondeu nervosamente, "Sr. Garcia, encontramos você na Rua Central, deitado ao lado de uma lixeira."

Só Deus sabia o quanto ficaram chocados ao encontrar Alexander ao lado de uma lixeira.

Pensaram que era uma brincadeira de um inimigo, mas depois que um médico profissional o examinou, descobriram que seu ferimento estava perfeitamente costurado, sem outros problemas.

Então ficaram ainda mais curiosos, mas não ousaram perguntar.

Alexander pressionou seu pescoço dolorido.

"Descubram tudo sobre esta noite. Quero saber quem eram aqueles homens."

"E aquela mulher, descubram quem ela é e por que estava naquele beco."

Três dias depois.

Na villa particular de Alexander, Oliver Taylor entrou abruptamente com Daniel Wilson logo atrás.

Alexander estava relaxando em um sofá de couro na sala de estar, sua camisa aberta revelando um peito enfaixado. Ele parecia pálido, mas ainda tinha aquele olhar intenso e afiado nos olhos.

"Ouvi dizer que te encontraram ao lado de uma lixeira?" Daniel provocou, um cigarro apagado pendurado nos lábios. "Quem teve a coragem de fazer isso?"

Alexander lançou-lhe um olhar frio. "Cala a boca."

Daniel riu, mas quando puxou a bandagem manchada de sangue, congelou.

Seus olhos se arregalaram, e o cigarro caiu dos lábios.

"Essa costura..." Sua voz se apertou. "É perfeita."

Como médico em um hospital de guerra internacional, ele tinha visto incontáveis ferimentos, mas nunca uma costura tão precisa.

Cada ponto estava precisamente espaçado em 0,03 polegadas, se misturando perfeitamente na pele e não deixando cicatrizes.

"Sr. Wilson, por favor, não fique aí parado!" Oliver estava torcendo as mãos de ansiedade.

Daniel agarrou o ombro de Alexander abruptamente. "Quem fez isso? Qual hospital?"

A voz dele tremia de excitação. "Existem menos de cinco pessoas no mundo com essa habilidade!"

Os olhos de Alexander brilharam. "Ainda estou investigando."

Daniel, relutantemente, trocou o curativo, abaixando a voz. "Isso é trabalho de um médico das forças especiais. Nenhuma pessoa comum poderia fazer isso."

"Eu sei." Um brilho perigoso passou pelos olhos de Alexander.

Quando ele encontrasse aquela mulher, ele faria questão de "agradecê-la" devidamente.

Assim que Daniel saiu, uma ligação veio da Villa Garcia.

Oliver atendeu, seu rosto ficando pálido. "Sr. Garcia, ele..."

Alexander arrancou o telefone, sua voz firme. "Está tudo bem."

Depois de desligar, ele jogou o telefone de volta para Oliver.

"Mentir para o Sr. Finn Garcia assim..." A voz de Oliver vacilou.

Se o avô de Alexander, Finn, descobrisse sobre o ataque, toda a Cidade Esmeralda estaria em tumulto.

Alexander zombou. "O que você encontrou?"

Oliver rapidamente puxou algumas informações na tela.

A exibição mostrou a foto de uma garota delicada, rotulada: [Zoey, estagiária de faculdade de medicina, especializada em dissecação animal.]

"Então," Alexander zombou, "fui salvo por uma veterinária?"

Suor escorria na testa de Oliver. "O arquivo dela está criptografado pelo exército. Isso é tudo que conseguimos encontrar."

Ele puxou imagens de vigilância. "E no dia do incidente, ela foi a única que passou por aquele beco."

Alexander olhou para a tela, lembrando dos olhos impacientes, mas intensamente focados, que ele viu antes de perder a consciência.

Um sorriso surgiu em seus lábios. "Interessante."

"Sr. Garcia, as pessoas naquela noite não pareciam ser bandidos comuns, mas Zoey lidou com eles sozinha e..."

A voz de Oliver caiu. "E ela costurou você sem pestanejar. Zoey não é uma pessoa comum. Devemos realmente manter contato com ela?"

"Claro." Um brilho brincalhão apareceu nos olhos de Alexander. "Ela é minha salvadora, afinal."

Oliver estremeceu com a luz perigosa nos olhos de Alexander.

Alexander mal tinha retornado ao país quando foi emboscado. Ele teve sorte de ser salvo, para ser encontrado por seus próprios homens ao lado de uma lixeira.

Qualquer um guardaria rancor por toda a vida por isso.

"Sr. Alexander Garcia, sobre o Sr. Finn Garcia..."

"Feche a boca." A voz de Alexander estava calma. "Quero ver Zoey."

Oliver ficou surpreso. "Agora?"

"Sim, agora." Alexander caminhou em direção à porta, seu casaco preto traçando um arco afiado atrás dele.

Oliver lembrou dos olhos frios e gélidos de Zoey nas imagens de vigilância e de repente sentiu que ela não seria fácil de abordar.

A entrada grandiosa de Alexander poderia apenas resultar em um tratamento frio.

Hora do almoço, atrás da faculdade de medicina.

Zoey estava mordendo um sanduíche, sua caneta anotando rapidamente dados experimentais no caderno.

De repente, várias sombras bloquearam a luz.

"Zoey?" O líder girava um cano de metal. "Meu chefe quer uma explicação."

Ela olhou lentamente para cima, seus olhos indiferentes por trás dos óculos grossos. "Quem é seu chefe?"

"Não se faça de boba!" O cano se moveu em direção à cabeça dela. "O motociclista que você salvou há dois dias! Ele está morto!"

O cano parou a cinco polegadas da cabeça dela.

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