Eu prefiro engatinhar

Elowen

O bip constante dos equipamentos médicos me puxou das profundezas da inconsciência como um nadador relutante rompendo a superfície. A luz dourada filtrava pelas janelas em um ângulo agudo—o sol já estava bem além do seu pico, o que significava que eu estava inconsciente há mais de um dia. Minha boca tinha gosto de cobre e cinzas, e cada respiração parecia inalar vidro quebrado. Mas eu estava viva.

Que maravilha.

Forcei meus olhos a se abrirem, apertando-os contra a luz fraca que filtrava pelo que parecia ser uma instalação médica. Não era a masmorra—um lugar mais limpo, embora o cheiro de antisséptico não pudesse mascarar completamente o odor subjacente de sangue e desespero que parecia permear tudo neste maldito forte.

Meus dedos. Eu conseguia mexer meus dedos. O alívio foi tão avassalador que quase chorei, mas mordi com força meu lábio inferior. Pequenas vitórias. Mexi cada dedo experimentalmente, testando a conexão entre meu cérebro e minhas extremidades. Tudo acima da cintura parecia estar funcionando.

Abaixo da cintura era uma história completamente diferente.

Nada. Uma completa e aterrorizante dormência da minha coluna até o que eu presumia ainda serem meus dedos dos pés, embora eu não pudesse senti-los para confirmar. Tentei mover minhas pernas, sentir algo, mas era como tentar mover membros fantasmas. A acônito havia feito seu trabalho minuciosamente.

Não entre em pânico. Não ouse entrar em pânico.

Procurei por minha loba, aquela presença familiar que tinha sido minha companheira constante desde que aprendi a me transformar. Mas não havia nada ali—apenas um vazio ecoante onde ela deveria estar. A acônito havia cortado essa conexão também, me deixando mais humana do que eu tinha sido desde criança.

O som de uma porta se abrindo me fez congelar. Eu não precisava olhar para saber quem era—aquela fragrância me atingiu como um golpe físico, sândalo e pinho de inverno misturados com algo mais escuro, mais perigoso do que eu lembrava.

Kaius.

Mantive meus olhos fixos no teto, mandíbula cerrada tão forte que pensei que meus dentes poderiam rachar. Talvez se eu o ignorasse, ele fosse embora. Talvez isso fosse apenas uma verificação para garantir que eu ainda não estava morta.

"Eu sei que você está acordada." Sua voz veio do pé da cama, baixa e rouca com um tom que fez minha pele arrepiar. "Sua respiração mudou."

Continuei olhando para o teto como se ele guardasse os segredos do universo.

"Olhe para mim."

O comando do Alfa invadiu minha consciência como uma marreta, enviando pontadas de agonia pelo meu crânio. Minha loba poderia estar suprimida, mas o vínculo de companheiro aparentemente não estava morto o suficiente para me salvar de sua autoridade. Meus olhos se voltaram para ele contra minha vontade, e eu imediatamente me arrependi.

Quatro anos o haviam tornado mais perigoso. Onde o futuro Rei Alfa que eu conhecia era bonito de uma maneira fria e calculada, o homem diante de mim agora era puro predador. Seu maxilar parecia esculpido em granito, e aqueles olhos cinza-tempestade continham uma crueldade que fez meu sangue gelar. Poder emanava dele em ondas—não apenas poder sobrenatural, mas o tipo de autoridade que vem do domínio absoluto sobre a vida e a morte.

Ele também estava furioso. A violência mal contida em sua postura fez todos os meus instintos de sobrevivência gritarem avisos.

"Por que diabos você está aqui?" Consegui resmungar, minha voz rouca de tanto gritar. "Me deixe ir. Eu não preciso de você para me tratar."

Uma risada amarga escapou de sua garganta. "Antes de decidir como lidar com você, preciso garantir que você fique viva. Não dá para interrogar um cadáver."

Lidar comigo. Como se eu fosse um problema a ser resolvido, em vez de uma pessoa. A crueldade casual em seu tom fez meu estômago revirar.

"Além disso," ele continuou, dando um passo mais perto da cama, "temos muita história para colocar em dia. Mas o que realmente tem me deixado louco..." Sua voz começou a subir, o controle escapando a cada palavra. "Por que diabos você preferiria morrer naquela plataforma a me dizer quem você era? Você preferiria sangrar até a morte anonimamente do que admitir que era minha companheira?"

A pergunta me atingiu como um tapa. Claro que ele estava com raiva disso—seu ego não podia lidar com a ideia de que sua companheira rejeitada quase foi executada sem que ele soubesse.

"Eu não quero nada com você," eu disse, colocando todo o desprezo que pude nas palavras.

Algo piscou nos olhos dele—surpresa, talvez, ou orgulho ferido. Então sua expressão endureceu em algo genuinamente aterrorizante.

"Escute bem," ele disse, sua voz baixando para aquele registro mortal que fazia lobos Alfa se encolherem. "Nosso vínculo ainda está intacto. Você ainda é minha. Sugiro que comece a agir como tal."

"Nunca." A palavra saiu entre dentes cerrados, afiada como vidro quebrado.

"Merda!" A explosão de raiva me fez estremecer apesar de mim mesma. Ele bateu o punho na parede ao lado da minha cama, o som ecoando como um tiro. "Então por que você não aceitou minha rejeição há quatro anos? Por que não cortou nosso vínculo? Você sabe que eu odeio ter qualquer conexão me prendendo!"

As palavras cortaram mais fundo do que deveriam. Memórias inundaram—como mesmo após sua humilhação pública, eu ainda nutria fantasias patéticas de que talvez ele mudasse de ideia. Eu me preocupava que cortar o vínculo pudesse prejudicar sua força, talvez até custar-lhe a posição de Alfa.

Deus, eu tinha sido uma tola patética.

Seus olhos se estreitaram, algo calculador mudando por trás da fúria. Ele estudou meu rosto como se eu fosse um quebra-cabeça que ele não conseguia resolver.

"Você mudou," ele disse baixinho, e havia algo quase como respeito em seu tom.

"Você também mudou," eu cuspi. "Você se tornou sem coração. Um tirano. Um Rei Alfa assassino que massacra inocentes por esporte."

Em vez da raiva que eu esperava, ele se aproximou, seus dedos deslizando sob meu queixo para forçar minha cabeça para cima. O toque enviou faíscas elétricas correndo pela minha pele—a cruel lembrança do vínculo de companheiro do que deveria ter sido.

"Você está mais forte," ele murmurou, seu polegar traçando a linha do meu maxilar com uma gentileza enganosa. "Você sobreviveu àquele nível de tortura com beladona e ainda está lutando contra mim. Talvez você não seja a loba fraca que era há quatro anos. Talvez a Deusa da Lua tivesse seus motivos para nos juntar afinal."

A maneira como ele disse isso fez gelo se formar em minhas veias. Havia algo predatório em seu olhar, algo que falava de planos que eu definitivamente não queria saber.

"Nem pense nisso," eu rosnei, tentando me afastar de seu toque apesar do calor traiçoeiro que se espalhava de cada ponto de contato. "Eu preferiria morrer a deixar você me marcar."

"Oh, você não precisa se preocupar com uma marca permanente—por enquanto," ele disse com um sorriso frio que fez meu sangue congelar. "Até eu descobrir exatamente o que você é, o que aconteceu nesses quatro anos..." Ele se inclinou, seu rosto a poucos centímetros do meu, perto o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração contra minha pele. "Eu não vou te marcar. Mas não posso prometer que não farei outras coisas. Você sabe como nosso vínculo é poderoso."

O vínculo de companheiro pulsava traiçoeiramente entre nós enquanto ele se aproximava, seu nariz quase tocando meu pescoço enquanto ele inalava meu cheiro. Faíscas elétricas dançavam pela minha pele onde sua presença permanecia, e eu odiava como meu corpo traidor respondia.

Não. Absolutamente não.

"Saia de perto de mim!" eu rosnei, usando toda a força do meu corpo superior para me lançar de lado para fora da cama.

O mundo girou enquanto eu caía no chão, meu ombro absorvendo o impacto com um estalo nauseante. A dor explodiu através do meu torso enquanto equipamentos médicos se espalhavam ao meu redor, mas eu não parei. Mesmo enquanto a agonia rasgava minhas costelas, mesmo enquanto algo quente e úmido começava a escorrer pela minha testa onde eu havia batido na quina de um armário de metal, eu continuei rastejando para longe dele.

"Você vai se matar!" ele rugiu, e eu podia ouvir choque genuíno em sua voz. "Você tem ideia de quanto beladona ainda está no seu sistema?"

Eu me virei para encará-lo do chão, sangue escorrendo pelo meu rosto, minha respiração saindo em arfadas irregulares. A dor era excruciante, mas a expressão de descrença atordoada no rosto dele fazia valer a pena.

Sangue encheu minha boca, mas eu sorri mesmo assim, mostrando-lhe dentes vermelhos.

"Não finja que se importa se eu viver ou morrer."

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