Soluçando

==Matteo==

Desliguei o telefone com minha secretária, bem a tempo de ouvir uma batida na porta.

"Entre," eu disse.

A porta se abriu e revelou meu mordomo. "Senhor, tenho os documentos comigo."

Eu o convidei a entrar, e ele me entregou os documentos.

A primeira página dizia: Olive Samantha Haynes. A segunda página exibia suas informações pessoais. Pelo que parecia, ela tinha acabado de completar 21 anos, media 1,65m de altura e trabalhava como garçonete em um café local. Virei para a próxima página e vi suas fotos.

Meus olhos percorreram sua figura. Imediatamente fechei a pasta, não querendo ver mais.

"Pode ir."

Ele assentiu, e quando estava prestes a sair, eu disse: "Prepare o carro. Vou para a cidade."


Finalmente chegamos ao nosso destino depois que o trânsito enlouquecedor da cidade ameaçou nos esmagar. Não podia acreditar que, a essa hora do dia, o trânsito estava tão intenso. Uma das razões pelas quais eu valorizava a paz e tranquilidade que o Malchian Grove proporcionava.

Meu motorista desceu do carro e entrou no prédio. Algum tempo depois, ele voltou. Sua expressão era neutra, exatamente como eu havia instruído.

"Senhor, ela não apareceu hoje."

Não disse nada, apenas continuei olhando pela janela. "Dirija até a residência dela."

Ele ligou o carro e saiu do local. Logo chegamos à residência. Um lugar chamado Rua Hunnigton. Basta dizer que era um lugar nojento. Um cortiço. Tudo estava sujo. O ar cheirava a poluição e eu podia sentir o gosto acre de fumaça no ar.

Meu motorista, mais uma vez, saiu do carro e entrou no prédio. Observei a casa. Era um complexo de apartamentos antigo que cheirava a decadência. Continuei olhando até que o cheiro veio. Era tão forte que não pude ignorar. Cheirava a frangipani. Minha perdição.

No entanto, sabia que era melhor não sair do carro. Esse lugar exalava criminalidade. Logo, meu motorista chegou.

Ele entrou. "Senhor, ele—"

Levantei a mão levemente, interrompendo-o. "Eu já volto."

Saí do carro e segui o cheiro até o quintal. Havia pedaços de metal e outros lixos espalhados por ali. Procurei ao redor, me perguntando de onde vinha o cheiro. Segui meu olhar na direção do cheiro. Vinha de cima. Levantei o olhar e ele repousou em um certo apartamento. A janela à esquerda no quarto andar.

Foi então que ouvi.

Seus soluços. Eram suaves e pareciam de alguém em dor. Pausei por um momento antes de me virar.

Capítulo 5.

Não podia acreditar que a pessoa que eu estava olhando no espelho era eu. Ela era uma pessoa totalmente diferente. Seus olhos estavam inchados e nos cantos havia rímel borrado. Seu cabelo estava desarrumado e havia perdido sua textura quente e agradável. Seu loiro estava desbotando.

Também não podia acreditar que o homem que eu chamava de pai havia me traído. Ele era um estranho. Não era aquele homem que me comprava picolés ou andava no carrossel comigo. Não era o homem que cuidava de mim e garantia que eu não me metesse em encrenca com rapazes. Não, ele não era aquele homem que compartilhava sua receita secreta de panquecas comigo. Ele estava perdido. Ele era diferente.

Olhei para o papel que estava na mesa:

Minha consciência tem me atormentado severamente. Não consigo me perdoar pelo que fiz. Entendo se você não me perdoar.

Não sabia o que pensar da carta. Porque me levantei da cama e a encontrei ali. Não havia sinal dele por perto. Não me dei ao trabalho de ligar.

Fechei os olhos, lembrando do que havia acontecido. Como meu mundo inteiro virou de cabeça para baixo em um segundo. Quando meu pai me deu a notícia, fiquei olhando em descrença. Estava tão chocada que não conseguia falar. Não sabia o que dizer. Não conseguia me obrigar a falar. Estava destruída. Estava despedaçada.

Quando ele me disse "eles", pensei que ele se referia a uma empresa ou algo assim. Não a duas pessoas completamente diferentes para quem ele havia me oferecido.

Lembrei-me de gritar:

"Como pôde, pai!"

"Desculpe. Eu não estava pensando direito," ele respondeu.

Fechei os olhos com mais força, querendo afastar esses pensamentos. Como eu iria escapar dessa situação? Como? Não havia para onde correr. Ninguém para ligar...

Sentei-me ereta quando um pensamento veio à minha cabeça. Espere um minuto. Leah. Sim, Leah.

Corri para a cama e peguei meu telefone. Imediatamente disquei o número dela.

"Oi, ba—"

Meu choro a interrompeu. "Preciso de você, Leah. É urgente."

"Meu Deus. Qual é o problema?"

"Não tenho muito tempo. Vou te contar tudo quando você chegar aqui."

"Já estou indo."

Passei o tempo esperando Leah andando de um lado para o outro no quarto. Em pouco tempo, ouvi uma batida na porta. Corri para abrir. Assim que a vi, envolvi meus braços ao redor dela. Chorando.

Ela me acariciou, passando os dedos pelo meu cabelo. "Está tudo bem, querida. Estou aqui agora."

Depois de chorar, me afastei dela. De repente, percebi que não tinha tomado banho e devia estar um desastre fedorento. De qualquer forma, ela não demonstrou. Aquele olhar de preocupação estava em seu rosto enquanto me conduzia ao quarto.

Sentamos na cama.

"O que está acontecendo?" ela disse.

Eu funguei. "Muita coisa. Não sei por onde começar."

"Respire. Respire," Leah disse, demonstrando com as mãos.

Como eu poderia dizer a ela que não conseguia respirar? Que tudo o que eu queria era fugir daqui. Nunca mais ser vista.

Com lágrimas nos olhos, eu disse, "Meu..." Eu não conseguia mais chamá-lo de pai. Não conseguia me obrigar a chamá-lo assim. "Joe me vendeu."

Leah franziu a testa. "Quem é Joe?"

"Joe Haynes. O que isso te diz?"

Ela arregalou os olhos. Então um sorriso surgiu em seus lábios. Ela deu uma pequena risada. "O que está acontecendo aqui? Desde quando você chama seu pai pelo nome?"

"Correção. Ele não é meu pai."

"Você está bem?"

"Eu pareço bem?"

"Bem, claramente você não está. Primeiro, seu cabelo está todo bagunçado, seu pijama já viu dias melhores e, além disso, aqui está você se referindo ao seu pai—"

"Padrasto." Apontei o dedo para ela.

"Desde quando isso importa?"

"Desde que ele..." Engasguei novamente com as palavras. "Desde que ele me vendeu."

Ela parecia confusa, com as mãos levantadas. "Espere, espere. Vendeu você? O que você quer dizer?"

Caminhei até a janela e olhei para fora. Estava nublado, combinando perfeitamente com meu humor. Eu realmente precisava que a chuva caísse.

"Estou esperando." As palavras de Leah me interromperam.

Me assustei um pouco. Não lembrava que ela estava ali. Engolindo o restante da saliva na boca, contei a ela. Cada detalhe.

"O quê?" Ela se levantou da cama. "Como ele pôde fazer isso?"

Ela caminhou até mim e me virou para encará-la. "Olhe para mim, Olivia."

Eu olhei. Meus olhos cheios de lágrimas na única pessoa que eu considerava amiga. Seus olhos escuros estavam mais profundos agora. Seu rosto franzido em concentração.

"Escute. Nada vai acontecer. Eles não ousam colocar as mãos imundas em você."

Eu funguei, assentindo. Mas, no fundo, eu não via nenhuma esperança.

"Isso é escravidão, e não preciso te dizer que é contra a lei," ela disse. "Venha aqui."

Eu a abracei novamente, as lágrimas ainda fluindo.

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